Lukashenko assume o sétimo mandato e diz que Belarus tem ‘mais democracia’ que o Ocidente

Cerimônia de posse reuniu apoiadores e militares em Minsk, enquanto a oposição exilada organizava protestos internacionais

O presidente Alexander Lukashenko foi empossado nesta segunda-feira (31) para seu sétimo mandato consecutivo à frente de Belarus, em meio a críticas internacionais e repressão contínua à oposição. Durante o discurso no Palácio da Independência, em Minsk, o líder ironizou os críticos que o chamam de “último ditador da Europa” e afirmou que seu país tem “mais democracia que aqueles que se dizem exemplares”. As informações são da agência Associated Press (AP).

A cerimônia contou com a presença de milhares de apoiadores e militares que prestaram juramento de fidelidade ao presidente. “Metade do mundo sonha com nossa ‘ditadura’, a ditadura dos negócios de verdade e dos interesses do nosso povo”, disse Lukashenko, de 70 anos. O evento foi marcado pela ausência de líderes internacionais e pela realização simultânea de protestos organizados por opositores exilados em diferentes países da Europa.

Apesar do discurso, o presidente nunca pareceu se incomodar com a imagem autoritária, mesmo em meio aos protestos e à desconfiança crescente. A porta-voz do presidente Natalya Eismont chegou a afirmar em 2019, na televisão estatal, que a “ditadura é a marca” do governo de Belarus.

Lukashenko toma posse para o sétimo mandato em Belarus (Foto: president.gov.by/divulgação)

O desgaste com o regime se acentuou em 2020 devido à forma como ele lidou com a pandemia de Covid-19, que chegou a chamar de “psicose”. O rígido controle que mantém no país, entretanto, não deu chance à oposição na eleição deste ano, que foi realizada em 26 de janeiro e amplamente criticada por organizações de direitos humanos.

A Comissão Eleitoral Central declarou que o presidente venceu com quase 87% dos votos, após uma campanha com apenas quatro candidatos que endossaram sua gestão. Segundo grupos independentes, o pleito ocorreu em clima de medo e repressão.

Ativistas afirmam que Belarus mantém mais de 1,2 mil presos políticos, incluindo o Nobel da Paz Ales Bialiatski, fundador do Centro de Direitos Humanos Viasna. Em nota conjunta divulgada nesta segunda, a organização que ele criou e outras dez entidades afirmaram que “a eleição foi realizada em meio a uma profunda crise de direitos humanos, num ambiente de medo total causado por repressões contra a sociedade civil, a mídia independente, a oposição e a dissidência”.

Desde os protestos em massa de 2020, os maiores da história do país de nove milhões de habitantes, mais de 65 mil pessoas foram presas, muitas delas espancadas pela polícia. Órgãos de imprensa e ONGs foram fechados, o que levou à imposição de sanções por parte dos países ocidentais. Ainda assim, Lukashenko se mantém no poder com apoio político e financeiro do presidente russo Vladimir Putin, de quem é aliado desde 1994.

A líder opositora Sviatlana Tsikhanouskaya, que vive no exílio após disputar as eleições de 2020, que alega ter vencido, prometeu continuar lutando. “Nosso objetivo é romper com a ocupação russa e com a tirania de Lukashenko e reintegrar Belarus à família europeia de nações”, disse ela no parlamento da Lituânia.

Tsikhanouskaya é uma das muitas opositoras a deixar o país em razão da violenta repressão imposta por Lukashenko. Diferente dela, o marido, Sergei Tikhanovsky, foi preso e cumpre uma pena de quase 20 anos de prisão sob acusações consideradas politicamente motivadas.

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