A invasão ucraniana na região russa de Kursk é uma provocação de Kiev para forçar a Rússia a usar seu arsenal nuclear em resposta, o que levaria os aliados ocidentais a intervirem. A análise é do presidente de Belarus Alexander Lukashenko, que se manifestou em declaração à rede belarussa BelTA.
“Tal escalada por parte da Ucrânia é uma tentativa de empurrar a Rússia para ações assimétricas. Bem, digamos, usar armas nucleares”, disse o autoritário líder, importante aliado do presidente da Rússia Vladimir Putin.
Na segunda-feira (19), o presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky afirmou que a operação em Kursk é apenas “defensiva” e bem-sucedida. Segundo ele, as tropas de Kiev conquistaram uma área de 1,25 mil quilômetros quadrados, o que engloba 92 assentamentos russos.
Zelensky argumentou que optou por invadir Kursk porque os aliados ocidentais não autorizaram o uso de armamento de longo alcance, impedindo assim a Ucrânia de neutralizar a artilharia russa posicionada mais longe da fronteira.
“Se nossos parceiros suspendessem as restrições atuais ao uso de armas em território russo, não precisaríamos entrar fisicamente na região de Kursk”, disse Zelensky, de acordo com a agência Reuters.
No entanto, Lukashenko refuta o argumento. “Eu sei com certeza que a Ucrânia ficaria muito feliz se a Rússia ou nós usássemos armas nucleares táticas lá. Eles vão aplaudir”, disse o presidente belarusso, que na sequência fez ameaças usando as armas nucleares russas como ferramenta de dissuasão.
“Então, provavelmente, dificilmente teríamos aliados restantes. Em geral, não haveria nem mesmo países simpáticos restantes”, disse ele, sugerindo que um ataque nuclear desencorajaria qualquer resposta militar contra Moscou. “Essas são armas nucleares. Há um certo medo delas. É por isso que eles querem forçá-las.”
Belarus, nação nuclear
Em maio de 2023, Moscou e Minsk assinaram acordos que permitem a implantação de armas nucleares táticas russas no território de Belarus. Foi a primeira vez desde o colapso da União Soviética que ogivas nucleares passaram a ser realocadas para fora da Rússia.
O anúncio provocou críticas imediatas de governos ao redor do mundo, com a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) descrevendo-o como “perigoso e irresponsável”.
Apesar das declarações de altos funcionários russos de que Moscou manterá o controle sobre as armas nucleares transferidas para Belarus, Lukashenko afirmou anteriormente que não hesitaria em utilizá-las em caso de agressão contra seu país, embora esperasse nunca ter que tomar tal decisão.
Aliança Moscou-Minsk
A aliança entre Belarus e Rússia é anterior à invasão da Ucrânia e se fortaleceu com a guerra. O país comandado por Lukashenko permitiu que Moscou, sob o governo do aliado Putin, acumulasse tropas na região de fronteira e posteriormente usasse o território belarusso como passagem para as forças armadas russas.
A situação levou governos e entidades ocidentais a incluírem Belarus em inúmeras sanções impostas à Rússia em função da guerra, mesmo que Minsk não tenha enviado soldados para combater ao lado das tropas da nação aliada.
Mais que uma aliança, a relação é de submissão belarussa a Moscou, a ponto de o jornalista russo Konstantin Eggert a afirmar, em artigo publicado pela rede Deutsche Welle (DW) em março de 2022, que “o Kremlin vem consolidando seu controle sobre o país vizinho”. E isso, segundo ele, “aponta para o objetivo de a Rússia absorver Belarus de uma forma ou de outra, embora possa permanecer oficialmente no mapa com Lukashenko como governante.”
O próprio presidente belarusso levantou essa possibilidade em agosto de 2021, embora não tenha manifestado otimismo na conclusão do processo. “Quando falamos de integração, devemos entender claramente que isso significa integração sem nenhuma perda de Estado e soberania”, disse na ocasião.
Por sua vez, o embaixador dos EUA na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Michael Carpenter, afirmou em janeiro de 2023 que Belarus pode ter o mesmo destino da Ucrânia após a guerra, vez que o objetivo da Rússia é “apagar a soberania” das duas nações. Segundo ele, Putin já “deixou claro” que os países “pertencem” à Rússia.