Maduro mobiliza tropas em resposta à aproximação de navio de guerra britânico

Ditador classificou a iminente chegada do HMS Trent à costa da Guiana como uma 'ameaça' à Venezuela e ordenou manobras militares

O líder venezuelano Nicolás Maduro anunciou na quinta-feira (28) uma resposta áspera à aproximação de um navio de guerra britânico rumo às águas da Guiana. Em um discurso transmitido em rede nacional, o ditador revelou que ordenou exercícios militares no Caribe Oriental, envolvendo seis mil soldados, incluindo forças aéreas e navais. As informações são do site Politico.

A reação de Maduro veio após o Reino Unido anunciar nesta semana o envio do navio HMS Trent para Georgetown, medida descrita como uma demonstração de apoio à ex-colônia britânica, vizinha da Venezuela.

Em um referendo simbólico no começo do mês, os venezuelanos votaram a favor de anexar a região rica em petróleo de Essequibo, na Guiana, intensificando a disputa territorial entre os dois países. Nos últimos anos, a Venezuela renovou suas reivindicações sobre a área devido à descoberta do combustível fóssil.

O navio patrulha HMS Trent da marinha britânica fotografado em 2019 (Foto: WikiCommons)

Os eleitores decidiram sobre a criação de um novo estado venezuelano no território compreendido entre o rio Cuyuni e o rio Essequibo, concedendo cidadania aos residentes locais e incorporando a região ao mapa territorial do país. A região de 160 mil quilômetros quadrados ao redor do rio Essequibo, aproximadamente o tamanho do estado de Santa Catarina, é principalmente composta por floresta tropical.

Maduro considera a chegada iminente do HMS Trent ao país vizinho como uma “ameaça” à Venezuela, alegando violação de acordos sul-americanos. Em seu discurso, ele afirmou que Caracas buscará “diplomacia e paz, mas não aceitará ameaças”, considerando a situação “inaceitável” para qualquer país soberano da América Latina.

O Ministério da Defesa britânico anunciou o envio do seu navio de guerra à Guiana sem mencionar explicitamente a Venezuela. A visita é oficialmente justificada como parte dos compromissos da Tarefa de Patrulha do Atlântico na região.

Questão “resolvida”

O HMS Trent é um navio de patrulha e resgate que recentemente participou da interceptação de traficantes de drogas na costa oeste da África. Ele pode acomodar até 30 marinheiros e 18 fuzileiros navais, além de possuir canhões de 30 mm e uma pista de pouso para helicópteros e drones. O navio realizará operações conjuntas com as forças de defesa da Guiana, declarou a pasta de Defesa do Reino Unido, segundo reportagem da rede CBS News.

Em visita à Guiana na semana passada, David Rutley, ministro das Relações Exteriores britânico, afirmou que a questão da fronteira “está resolvida há mais de 120 anos”, e enfatizou a importância de respeitar fronteiras soberanas em todo o mundo.

O pequeno país na costa do Atlântico Norte tem uma população de 800 mil habitantes, e possui um modesto exército composto por três mil soldados, 200 marinheiros e quatro barcos patrulha chamados “Barracudas”.

Por que isso importa?

A Venezuela experimentou um período de destaque como um dos principais exportadores de petróleo durante grande parte do século 20. O boom local começou na década de 1920, quando grandes reservas de petróleo foram descobertas no país. O crescimento da indústria petrolífera impulsionou a economia venezuelana e permitiu ao país tornar-se um dos maiores exportadores de petróleo do mundo.

O auge da influência da Venezuela como potência exportadora de petróleo ocorreu nas décadas de 1970 e 1980. Nesse período, a Venezuela era membro fundador da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e desempenhava um papel significativo na determinação dos preços do petróleo no mercado internacional.

A partir dos anos 2000, Caracas enfrentou desafios econômicos, políticos e sociais significativos, incluindo uma crise econômica e instabilidade política, que afetaram sua capacidade de manter a posição de destaque como uma potência exportadora de petróleo.

Atualmente, a exportação de petróleo da Venezuela regrediu a níveis da década de 1940, de acordo com documentos da estatal petroleira da Venezuela, a PDVSA, segundo levantamento da Reuters feito em 2021.

Os principais catalisadores do colapso seriam as sanções dos EUA e a forte crise econômica que atinge em cheio a ditadura de Nicolás Maduro.

A década antecede a instalação das primeiras refinarias na costa do país, em 1947. Com as punições de Washington, Caracas tem dificuldade para consertar as plataformas e manter o ritmo de produção que lhe garanta lugar na Opep.

Só em 2020, a saída de matéria-prima e refinados da Venezuela caiu 37,5% – menor valor em 77 anos. A redução na produção foi de 376,5 mil barris por dia.

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