Milícia russa pró-Kiev revela plano frustrado para libertar Alexei Navalny

Resgate ocorreria durante a transferência dele para um presídio no Ártico, mas foi abortada devido à segurança reforçada

A milícia armada Corpo de Voluntários Russos, um grupo de extrema direita da Rússia que se juntou às Forças Armadas da Ucrânia durante a guerra, disse que tinha um plano para libertar Alexei Navalny, que morreu sob custódia do Estado na última sexta-feira (16). No entanto, teve que abortar a iniciativa porque Moscou reforçou a segurança no momento em que a ação seria realizada, segundo o jornal The Moscow Times.

Os radicais dizem que agiriam quando Navalny foi transportada da colônia penal IK-3, na região de Vladimir, a cerca de 230 quilômetros de Moscou, para um outro presídio, o IK-6, no Ártico russo.

“Deveríamos recapturar Alexei Navalny do trem na estrada para IK-3 no distrito de Yamalo-Nenets, com as forças do nosso grupo, e então, junto com ele, deveríamos ir imediatamente para o território fronteiriço com a Ucrânia, reunir-se com o grupo de reconhecimento RDK”, disse a milícia.

A transferência de Navalny, no entanto, teve segurança reforçada pelo FSIN (Serviço Penitenciário Federal, da sigla em russo) e pelo FSB (Serviço Federal de Segurança), segundo o Corpo de Voluntários, avaliando que as medidas adotadas por Moscou “revelaram-se bastante eficazes.”

Navalny em marcha em memória de Boris Nemtsov, 2020 (Foto: Michał Siergiejevicz/WikiCommons)

A transferência de Navalny foi cercada de sigilo, como habitualmente ocorre em situações do gênero na Rússia. Em sua conta na rede social X, antigo Twitter, que é atualizada por apoiadores, o próprio Navalny comentou a situação, dizendo que fez diversas paradas antes de finalmente chegar às novas instalações da IK-6, na cidade de Kharp.

Mesmo o fato de que ele seria transferido foi mantido sob sigilo. Tanto que o ativista passou alguns dias desaparecido antes de ser transportado, o que levou seus seguidores a especularem inclusive sobre as condições de saúde dele.

“Os dados de transferência de Alexei estavam flutuando, por isso o fato em si foi ocultado do público. Os dados e a hora da transferência foram adiados várias vezes, mas no final começaram repentinamente, por ordem verbal direta do chefe do FSIN, e nosso grupo não teve tempo de se deslocar para a área onde a operação estava planejada para começar”, afirmou o grupo radical.

A morte de Navalny

Navalny morreu no dia 16 de fevereiro no IK-3, onde cumpria pena de mais de 30 anos de prisão por acusações que sempre alegou serem politicamente motivadas. A informação foi divulgada pelo FSIN e posteriormente confirmada por aliados.

De acordo com a agência Reuters, o rival de Putin “se sentiu mal” e desmaiou ao caminhar no pátio da prisão. Uma ambulância chegou a ser chamada e “foram realizadas todas as medidas de reanimação necessárias, que não deram resultado positivo.” Então, ainda de acordo com o órgão prisional, “os médicos da ambulância constataram a morte do condenado.”

Assassinato

Rival mais proeminente do presidente russo Vladimir Putin, Navalny alegou em diversas ocasiões que o Kremlin vinha tentando matá-lo. Ele foi colocado em inúmeras oportunidades no isolamento solitário dentro da prisão, disse que lhe foram negadas roupas adequadas para enfrentar o frio extremo e até que vinha sendo envenenado lentamente.

Após a confirmação da morte, grupos de direitos humanos, governos estrangeiros e até a ONU (Organização das Nações Unidas) atribuíram o ocorrido ao governo russo.

“Não se engane: Putin é responsável pela morte de Navalny”, disse o presidente norte-americano Joe Biden, segundo relato do jornal The New York Times. “O que aconteceu com Navalny é ainda mais uma prova da brutalidade de Putin. Ninguém deve ser enganado.”

O grupo OVD-Info, que monitora a repressão na Rússia, publicou um editorial igualmente acusando Putin. “Isto não é morte. Isso é assassinato”, diz o texto originalmente em russo, traduzido com o auxílio de ferramentas online.

Mariana Katzarova, especialista independente sobre a Rússia nomeada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, também apontou o dedo para o Kremlin e questionou: “Quem será o próximo?” Segundo ela, as condições em que ele era mantido na prisão equivalem a tortura, e chama a atenção o fato de ele ter morrido menos de um mês antes das eleições presidenciais russas.

Quem foi Alexei Navalny

Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A rede dele chegou a ter 50 sedes regionais em toda a Rússia e, entre outras ações, denunciava casos de corrupção envolvendo o governo Putin e figuras importantes ligadas a ele. Isso levou o Kremlin a agir judicialmente para proibir a atuação do opositor, que então passou a ser perseguido.

Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Ele voltou a Moscou em 17 de janeiro de 2021 e foi detido no aeroporto. Um mês depois, foi julgado e condenado por violar uma sentença suspensa de 2014, sob acusação de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente quando estava em coma pela dose tóxica.

Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, ele chegou a fazer uma greve de fome de 23 dias em abril, para protestar contra a falta de atendimento médico. Depois, em junho daquele ano, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais de Navalny e sua Fundação Anticorrupção (FBK) de funcionarem, classificando-os como “extremistas”.

Após a morte, retomou-se o debate sobre o retorno dele à Rússia, mesmo sabendo que seria preso e possivelmente morto pelo regime. A mulher dele, Yulia Navalnaya, disse que Navalny não pôde optar por uma vida tranquila no exílio porque “amava profundamente” a Rússia e acreditava no potencial do povo russo para um futuro melhor. Alegou ainda que o marido não apenas expressava essas convicções, mas as vivia intensamente, estando até mesmo disposto a sacrificar sua vida por elas.

Quando morreu, ele cumpria pena de 30 anos de prisão por acusações diversas, que vão desde fraude até extremismo, esta a mais grave. Ele sempre alegou que as acusações eram politicamente motivadas, uma forma de conter suas ações em oposição a Putin.

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