Viúva de Navalny mantém compromisso com legado de causas políticas deixado pelo marido

Yulia Navalnaya prometeu continuar o o trabalho do marido para construir uma Rússia democrática, apresentando-se como uma força política

Nesta segunda-feira (19), a viúva de Alexei Navalny, Yulia Navalnaya, anunciou que seguirá adiante com o trabalho de seu falecido marido, desafiando o regime do presidente Vladimir Putin e sua sanha de neutralizar opositores. Pela primeira vez, ela se posicionou como uma força política, convocando os seguidores do marido para se unirem a ela, conforme reportagem do jornal The New York Times.

A morte repentina do principal rival político de Putin na prisão, divulgada pelas autoridades russas na sexta-feira (16), deixou um vácuo na já enfraquecida oposição russa. Muitos se perguntam se Yulia, que há muito evita a mídia, assumirá um papel mais ativo, mesmo diante dos desafios que isso possa trazer.

Em um vídeo com quase nove minutos de duração divulgado nesta segunda, Yulia, de 47 anos, sinalizou que seguiria em frente com o trabalho de seu marido. Ela apareceu pela primeira vez no canal do YouTube do ativista morto para instar os seguidores a honrarem seu legado combatendo com ainda mais determinação o chefe do Kremlin, seus aliados e os agentes que prejudicaram a Rússia.

O oposicionista Alexei Navalny e a mulher dele, Yulia Navalnaya (Foto: reprodução/Instagram)

Yulia declarou: “Continuarei o trabalho de Alexei Navalny e lutarei pelo nosso país. Peço que se unam a mim, compartilhando não apenas a dor e a angústia que nos envolvem, mas também minha raiva, indignação e ódio por aqueles que ousaram tirar nosso futuro.”

Por muito tempo, Yulia resistiu à ideia de entrar para a política, afirmando em uma entrevista à revista alemã Der Spiegel no ano passado que “não estava interessada” nessa possibilidade. No entanto, a atitude demonstrada no vídeo é a de quem apresenta uma nova postura. Ao tentar mobilizar os seguidores de seu marido, ele sugeriu que “não tinha outra alternativa.”

Os desafios e riscos que a esposa de Navalny enfrentará ao tentar assumir o papel de liderança do marido são significativos. Em 2021, o governo russo declarou a Fundação Anticorrupção (FBK) de Navalny uma organização extremista, forçando seus principais membros a fugirem para o exílio. Isso dificultou recrutar novos aliados na Rússia, pois cooperar com a organização passou a ser considerado apoio ao terrorismo.

Substituir Navalny deve ser uma tarefa complexa, já que seu poder de engajamento junto aos seguidores era impulsionado por sua personalidade cativante, seu humor inabalável e sua fé no potencial do povo russo para promover mudanças, características que se uniam à incansável busca por justiça.

A causa da morte de Navalny ainda é um mistério, mas sua família e equipe acusam Putin de tê-lo assassinado por meio de um encarceramento brutal.

“Com a morte de Alexei, Putin matou metade de mim, metade do meu coração e metade da minha alma”, declarou Yulia. “Mas ainda me resta outra metade, que me diz que não tenho o direito de desistir.”

Por que Navalny voltou à Rússia?

Yulia também abordou diretamente uma questão que muitos dos seguidores de Navalny têm feito após a sua morte: Por que ele decidiu retornar à Rússia após ser envenenado em 2020, sabendo que isso provavelmente resultaria em sua morte?

Ela explicou que Navalny não pôde optar por uma vida tranquila no exílio após seu envenenamento porque “amava profundamente” a Rússia e acreditava no potencial do povo russo para um futuro melhor. Yulia revelou que o marido não apenas expressava essas convicções, mas as vivia intensamente, estando até mesmo disposto a sacrificar sua vida por elas.

As declarações da viúva do ativista surgem enquanto a equipe de Navalny luta para ter acesso ao seu corpo. Segundo Kira Yarmysh, porta-voz de Navalny, nesta segunda, as autoridades informaram à mãe dele que a investigação sobre sua morte foi estendida por tempo indeterminado e a impediram de ver o corpo do filho.

Yarmysh relatou em uma postagem nas redes sociais que um dos advogados foi literalmente expulso de um necrotério no Ártico, onde se presume estar o corpo de Navalny. Em outra postagem, ela criticou as autoridades por mentirem e ganharem tempo, sem sequer tentarem esconder isso.

Bancos dos Emirados Árabes restringem pagamentos com a Rússia

Os principais bancos dos Emirados Árabes Unidos estão fechando contas de cidadãos russos e restringindo transações com a Rússia devido às ameaças de sanções secundárias dos Estados Unidos, conforme informações do jornal de negócios Vedomosti na segunda-feira, reproduzidas pelo site independente The Moscow Times.

Essas medidas são uma resposta às advertências de Washington em dezembro, que ameaçaram cortar o acesso ao sistema financeiro dos EUA para bancos estrangeiros que negociam com empresas que apoiam a indústria de Defesa russa. A China e a Turquia já tomaram medidas semelhantes, limitando liquidações e encerrando contas de cidadãos russos.

Empresários russos enfrentam problemas para processar pagamentos nos Emirados Árabes Unidos desde setembro passado, devido a possíveis sanções dos EUA. As autoridades russas ainda não se pronunciaram sobre o assunto, mas fontes anônimas indicam que veem a situação como solucionável.

Apesar das sanções ocidentais devido à invasão da Ucrânia, a Rússia e os Emirados Árabes Unidos mantêm uma estreita cooperação como membros da OPEP+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).

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