A polícia de Estocolmo autorizou nesta sexta-feira (14) um polêmico protesto de queima de exemplares da Torá e da Bíblia em frente à embaixada de Israel, gerando controvérsia e reações das autoridades israelenses. O evento gera uma nova onda de críticas à Suécia por permitir a destruição pública de livros sagrados, com casos anteriores ligados ao Alcorão, e intensifica o debate sobre os limites da liberdade de expressão e tolerância religiosa. As informações são da agência Associated Press.
A manifestação, marcada para sábado (15), às 13h pelo horário local, foi solicitada por um homem em resposta à queima de um exemplar do Alcorão nas proximidades da principal mesquita de Estocolmo no mês passado. A polícia local aprovou o evento após não registrar riscos à segurança pública. Três pessoas estão previstas para participar.
A constituição sueca protege o direito de manifestação pública, com leis de blasfêmia abolidas na década de 1970. A polícia enfatiza a permissão para reuniões públicas, não para ações específicas, destacando a importância de distinguir entre os dois.
Autoridades israelenses pressionaram a Suécia para cancelar o evento.
O presidente de Israel, Isaac Herzog, expressou sua tristeza com a queima planejada da Bíblia judaica, após ter condenado também a queima do Alcorão. Já o ministro das Relações Exteriores, Eli Cohen, instou as autoridades suecas a impedirem o ato. O rabino-chefe de Israel, Yitzhak Yosef, também apelou ao rei da Suécia para intervir, condenando o evento e destacando a queima recente do Alcorão.
O Conselho das Comunidades Judaicas Suecas lamentou a decisão da polícia de permitir o protesto, ressaltando as associações históricas da queima de livros judaicos com eventos trágicos como pogroms [ataques violentos e organizados contra comunidades específicas, visando causar destruição e perseguição], expulsões, inquisições e o Holocausto.
No mês passado, um imigrante cristão iraquiano queimou um Alcorão fora de uma mesquita em Estocolmo, durante o feriado muçulmano de Eid al-Adha, gerando condenação global. Um protesto similar ocorreu em frente à embaixada da Turquia, complicando os esforços da Suécia para ingressar na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Na quarta-feira, a ONU (Organização das Nações Unidas) aprovou uma medida instando os países a agirem contra o ódio religioso após as queimas do Alcorão, apesar das objeções ocidentais devido à preocupação com a liberdade de expressão.
A queima do Alcorão se tornou ato recorrente entre militantes de extrema direita no país escandinavo, sendo associada ao político dinamarquês-sueco radical Rasmus Paludan, que ateou fogo no livro sagrado do Islã do lado de fora da embaixada turca na capital do país em janeiro e gerou um mal-estar diplomático. No entanto, Paludan não estava envolvido na ação ocorrida na quarta-feira.