Polônia prende jogador russo de hóquei no gelo acusado de espionagem

Varsóvia diz que este foi o 14º caso de espionagem identificado na Polônia envolvendo cidadãos da Rússia

O governo da Polônia anunciou nesta sexta-feira (30) que um atleta russo, jogador profissional de hóquei no gelo, foi preso na região da Silésia, no sul polonês, sob a acusação de espionagem. As informações são da agência Reuters.

O homem joga por uma equipe profissional no campeonato nacional da primeira divisão e foi levado sob custódia. O nome dele e a equipe que defende, no entanto, não foram divulgados.

O atleta vive na Polônia desde 2021, e a missão dele envolvia identificar infraestrutura crítica e repassar as informações a Moscou em troca de dinheiro. Ele está preso, será julgado e pode ser condenado a até dez anos de prisão.

De acordo com o governo, trata-se do 14º caso de espionagem identificado na Polônia envolvendo cidadãos da Rússia.

Embaixada da Rússia em Varsóvia, na Polônia (Foto: Wikimedia Commons)

A Polônia tem se tornado mais atraente para os serviços de inteligência russos porque é hoje um dos mais importantes aliados da Ucrânia na guerra, bem como membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Em março deste ano, Varsóvia anunciou a prisão de nove membros de uma quadrilha de espionagem russa que estaria supostamente coletando informações sobre rotas de transporte no país. Seis membros do grupo foram acusadas de planejar atos de sabotagem e espionagem.

Na ocasião, as forças de segurança da Polônia encontraram câmeras, equipamentos eletrônicos e transmissores de GPS que supostamente seriam escondidos em remessas enviadas como ajuda à Ucrânia.

Antes daquilo, em fevereiro, a Justiça polonesa havia acusado outro cidadão russo residente no país de praticar espionagem para Moscou durante vários anos. Ele teria coletado informações sobre a estrutura das unidades militares polonesas para o Kremlin.

“Espiões russos caem um por um! Outro sucesso dos investigadores”, disse pelo Twitter o ministro da Justiça polonês, Zbigniew Ziobro. “Um espião que agia disfarçado de atleta foi pego. O russo era jogador de um clube da 1ª liga. Este é o 14º membro da rede de espionagem que descobrimos. Gostaria de agradecer aos promotores e aos oficiais pelo empenho na defesa da pátria!”

Combate à espionagem russa

As atividades de espionagem russas na Europa sofreram um duro golpe nos últimos anos. Episódios como o envenenamento do ex-agente russo Sergei Skripal, no Reino Unido, levaram as nações do continente a fecharem o cerco contra Moscou, repressão que aumentou ainda mais com a guerra na Ucrânia.

Nos últimos anos, centenas de diplomatas russos foram expulsos de países europeus sob a acusação de que vinham atuando como espiões disfarçados. Ken McCallum, diretor do MI5, o serviço de inteligência doméstica britânica, calculou em novembro do ano passado que mais de 600 russos foram obrigados a deixar países europeus nessas condições.

“Isso foi o golpe estratégico mais significativo contra os serviços de inteligência russos na história recente da Europa”, disse McCallum na ocasião. “E, junto com ondas coordenadas de sanções, a escalada pegou (o presidente russo Vladimir) Putin de surpresa.”

Somente no Reino Unido, mais de cem pedidos de vistos diplomáticos feitos por Moscou foram rejeitados desde 2018, quando o Skripal e a filha dele, Yulia, foram envenenados em Salisbury, sul da Inglaterra. A inteligência russa foi acusada de coordenar a ação, embora Moscou até hoje negue envolvimento.

assassinato do homem (a filha sobreviveu) comprometeu as relações diplomáticas entre os governos britânico e russo e levou à primeira onda de expulsões de diplomatas suspeitos de atuarem como espiões. De lá para cá, diversos países europeus também detectaram membros do corpo diplomático russo que exerciam atividades incompatíveis com suas funções e igualmente os forçaram a ir embora.

Outro país que iniciou uma dura campanha de combate à espionagem russa foi a Alemanha, que no ano passado registrou um aumento considerável das atividades de inteligência de Moscou no país. Nesse sentido, relatório divulgado na semana passada pelo Escritório Federal para a Proteção da Constituição (BfV, na sigla em alemão), o serviço de inteligência doméstico, destaca as campanhas de desinformação como principal arma russa em solo alemão, embora atos de sabotagem também estejam em alta.

A Alemanha é o país com maiores população e economia dentro da União Europeia (UE), o que a torna forte influenciadora no bloco e ajuda a explicar o interesse de Moscou pelo país. De acordo com Thomas Haldenwang, que chefia o BfV, há um “grande número de agentes” russos na Alemanha, quase sempre próximos a pessoas poderosas.

Nos últimos anos, para conter o problema, o governo alemão também expulsou dezenas de supostos diplomata russos acusados de atuarem como espiões disfarçados. No final de maio deste ano, Berlim ainda anunciou que quatro dos cinco consulados da Rússia no país teriam suas licenças revogadas, sendo, portanto, fechados.

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