Prigozhin acusa cúpula militar da Rússia de esconder de Putin os erros ‘colossais’ do Exército

Empresário cita 'milhares de tanques e veículos blindados destruídos' e diz que presidente não toma conhecimento das derrotas do exército

O empresário Evgeny Prigozhin, chefe dos mercenários do Wagner Group, entrou novamente em rota de colisão com a cúpula militar da Rússia. Na quinta-feira (22), ele acusou o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e o chefe do Estado-Maior, Valery Gerasimov, de omitir do presidente Vladimir Putin os erros “colossais” cometidos pelas tropas de Moscou na Ucrânia. As informações são da revista Newsweek.

Em áudio compartilhado por sua assessoria de imprensa, Prigozhin aparece respondendo a um veículo de imprensa russo, que questionou por que as informações passadas por ele sobre a guerra invariavelmente são menos otimistas que as divulgadas oficialmente pelo Kremlin.

“Estão trazendo lixo completo para a mesa do presidente, uma vergonha”, disse ele. “Quando tomamos Bakhmut, deixamos todos os correspondentes militares irem para lá, você se lembra bem disso, para que eles vissem a verdadeira situação.”

O empresário insistiu no exemplo de Bakhmut, cidade no leste da Ucrânia onde a atuação do Wagner Group foi crucial para as conquistas territoriais de Moscou. “Ninguém fala sobre milhares de tanques e veículos blindados destruídos. Eles não deixam ninguém entrar lá, eles não mostr

O ministro da Defesa Sergei Shoigu (esquerda) e o chefe do Estado-Maior Valery Gerasimov (Foto: Facebook)
Mercenários x Exército

O mais recente ataque às duas mais importantes figuras das forças armadas russas ocorre em meio a crescentes desavenças entre o Wagner Group e o Exército regular, inclusive com relatos de episódios violentos. No início do mês, os mercenários disseram ter prendido um soldado acusado de atirar contra um veículo da organização paramilitar privada.

Naquela ocasião, ao comentar o episódio, Prigozhin fortaleceu as críticas às forças armadas, dizendo que os militares chegaram a bombardear propositalmente estradas que seriam usadas pelo Wagner, prejudicando assim a retirada deles de Bakhmut.

Outro foco de tensão recente foi a ordem emitida pelo ministério da Defesa para que organizações paramilitares privadas, caso do Wagner Group, assinassem contratos formais com o governo, uma forma de colocar os mercenários sob a batuta do Kremlin e assim reduzir o poder de Prigozhin. O empresário se negou a assinar.

Putin, porém, não deu sinais de que cederá nessa questão. Durante uma reunião com blogueiros pró-guerra agendada por iniciativa de Shoigu, o presidente disse que a medida “precisa ser tomada e deve ser tomada o mais rápido possível”. Alegou que ela está “alinhada com o bom senso, com a prática estabelecida e com a lei.”

Prigozhin x Putin

Paralelamente à crise entre o Wagner e as forças armadas, cresce também o distanciamento entre Putin e Prigozhin. O empresário, que já foi um dos mais importantes aliados do presidente, passou nos últimos meses a manifestar publicamente sua insatisfação não só com o Exército, mas também com o governo, a ponto de ter proferido ofensas aparentemente endereçadas ao líder russo.

Durante vídeo em seu movimentado canal no Telegram, por ocasião do feriado russo de 9 de maio o chefe do Wagner Group jogou no ar uma pergunta cuja interpretação não deu muita margem a dúvida: “E se o avô for um verdadeiro idiota?”, declara ele nas imagens, referindo-se provavelmente a Putin.

A rebeldia de Prigozhin tem levado especialistas e especularem diferentes destinos para ele. Em artigo publicado no início de março pela rede CNN, a jornalista Candace Rondeaux declarou que o empresário “está sendo alternadamente falado como um rival em potencial do presidente da Rússia, Vladimir Putin, ou um alvo de assassinato”.

Quanto à organização paramilitar que Prigozhin comanda, Vlad Mykhnenko, especialista na transformação pós-comunista da Europa Oriental e da ex-União Soviética, pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, sugere que ela pode acabar sendo incorporada pelo Kremlin, movimento que já começou com a ordem para assinatura de contrato.

O analista cita como indício o fato de que os generais russos Roman Gavrilov, ex-vice-comandante da Guarda Nacional, e Mikhail Mizintsev, ex-vice-ministro da Defesa, foram contratados pelo Wagner após terem sido supostamente demitidos pelo governo.

“Prigozhin deve ter pensado que essas ações fortaleceriam o poder do Wagner dentro da máquina burocrática russa. No entanto, poderia ser tanto um prelúdio ou início da ‘tomada hostil’ do Wagner pelo Kremlin”, disse Mykhnenko. “Mizintsev pode ter sido implantado de propósito para assumir o controle”, acrescentou.

Quanto ao empresário, o analista concorda com a segunda alternativa levantada pela jornalista Candace Rondeaux. “Apostaria em Prigozhin sendo encontrado morto em um ‘suicídio’ encenado pelo Estado russo, com uma pistola na mão e uma nota de suicídio ridícula”, disse ele.

O especialista até sugere um roteiro alternativo, digno de filme de ação, para conclusão da história. “Moscou também poderia fornecer à Ucrânia a geolocalização precisa de Prigozhin dentro de um alcance de foguete Himars de 70 quilômetros para acabar com ele e fornecer um ‘heroico’ impulso de recrutamento de propaganda para o ‘novo’ emasculado Wagner.”

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