Professor universitário russo é preso por espionagem na Estônia

Vyacheslav Morozov foi desligado da Universidade de Tartu após a polícia anunciar o início de uma investigação criminal contra ele

Na Estônia, a polícia prendeu um professor universitário russo suspeito de envolvimento em atividades de espionagem a favor de Moscou. As autoridades iniciaram uma investigação sobre Vyacheslav Morozov, alegando que o acadêmico estaria participando de operações de inteligência com o objetivo de minar a segurança nacional do país. A notícia foi divulgada nesta terça-feira (16) pela imprensa estoniana e reproduzida pelo The Moscow Times.

Morozov, que lecionava política internacional na Universidade de Tartu, foi detido pelo Serviço de Segurança Interna (Kapo, da sigla em estoniano) da Estônia em 3 de janeiro e permanece sob custódia desde então, de acordo com informações do jornal Postimees.

O recente caso da prisão de Morozov se une a outros incidentes, evidenciando o anseio das agências de inteligência russas em se infiltrar em diversos setores da vida na Estônia, inclusive dentro de universidades, de acordo com Margo Palloson, chefe do Kapo.

As autoridades de segurança iniciaram uma investigação criminal contra o acadêmico, resultando em um tribunal estoniano determinando sua prisão por até dois meses.

Universidade de Tartu é a maior e mais bem classificada universidade na Estônia (Foto: Bernt Rostad/Flickr)

Morozov trabalhou na universidade como professor de estudos de União Europeia-Rússia entre 2016 e 2023 e como professor de teoria política internacional a partir de 1º de janeiro de 2023 até sua detenção.

À frente do Instituto de Estudos Políticos da Universidade de Tartu, Kristiina Tonnisson comunicou aos ex-alunos, por meio de uma carta, que Morozov foi demitido após o anúncio da investigação, conforme relatado pela TV estatal estoniana ERR.

“Confirmamos que não tivemos motivos para questionar o trabalho anterior de Vyacheslav Morozov. Mas, luz de novos conhecimentos, é importante revisá-lo criticamente”, disse a coordenadora. E acrescentou, sem entrar em detalhes sobre a natureza das acusações contra o professor: “Nossa confiança foi seriamente abusada.”

Combate à espionagem russa

As atividades de espionagem russas na Europa sofreram um duro golpe nos últimos anos. Episódios como o envenenamento do ex-agente russo Sergei Skripal, no Reino Unido, levaram as nações do continente a fecharem o cerco contra Moscou, repressão que aumentou ainda mais com a guerra na Ucrânia.

Nos últimos anos, centenas de diplomatas russos foram expulsos de países europeus sob a acusação de que vinham atuando como espiões disfarçados. Ken McCallum, diretor do MI5, o serviço de inteligência doméstica britânica, calculou em novembro de 2022 que mais de 600 russos foram obrigados a deixar países europeus nessas condições.

“Isso foi o golpe estratégico mais significativo contra os serviços de inteligência russos na história recente da Europa”, disse McCallum na ocasião. “E, junto com ondas coordenadas de sanções, a escalada pegou (o presidente russo Vladimir) Putin de surpresa.”

Somente no Reino Unido, mais de cem pedidos de vistos diplomáticos feitos por Moscou foram rejeitados desde 2018, quando Skripal e a filha dele, Yulia, foram envenenados em Salisbury, sul da Inglaterra. A inteligência russa foi acusada de coordenar a ação, embora Moscou até hoje negue envolvimento.

assassinato do homem (a filha sobreviveu) comprometeu as relações diplomáticas entre os governos britânico e russo e levou à primeira onda de expulsões de diplomatas suspeitos de atuarem como espiões. De lá para cá, diversos países europeus também detectaram membros do corpo diplomático russo que exerciam atividades incompatíveis com suas funções e igualmente os forçaram a ir embora.

Outro país que iniciou uma dura campanha de combate à espionagem russa foi a Alemanha, que em 2022 registrou um aumento considerável das atividades de inteligência de Moscou. Nesse sentido, relatório divulgado pelo Escritório Federal para a Proteção da Constituição (BfV, na sigla em alemão), o serviço de inteligência doméstico, destaca as campanhas de desinformação como principal arma russa em solo alemão, embora atos de sabotagem também estejam em alta.

A Alemanha é o país com maiores população e economia dentro da União Europeia (UE), o que a torna forte influenciadora no bloco e ajuda a explicar o interesse de Moscou pelo país. De acordo com Thomas Haldenwang, que chefia o BfV, há um “grande número de agentes” russos na Alemanha, quase sempre próximos a pessoas poderosas.

Nos últimos anos, para conter o problema, o governo alemão também expulsou dezenas de supostos diplomata russos acusados de atuarem como espiões disfarçados. No final de maio de 2023, Berlim ainda anunciou que quatro dos cinco consulados da Rússia no país teriam suas licenças revogadas, sendo, portanto, fechados.

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