Proibida de competir por Belarus, esquiadora foge com a família para a Polônia

Darya Dalidovich foi expulsa da federação de esqui porque o pai dela teria participado de protestos contra o presidente Lukashenko

A esquiadora belarussa Darya Dalidovich, proibida de competir em seu país porque o pai dela é acusado de fazer oposição ao presidente Alexander Lukashenko, fugiu de Belarus para a Polônia. O anúncio foi feito por Sergei Dalidovich em sua conta no Facebook.

“É bom quando toda a família está reunida. Agora vamos olhar para Varsóvia mais minuciosamente. Muito tempo. É mais fácil respirar. Realmente não tem neve – está chovendo e cheira a primavera. Saímos”, disse Sergei, pai de Darya, em post publicado na terça-feira (8).

Em janeiro, Darya teve seu registro na federação local cassado, junto com o da também esquiadora Svyatlana Andryyuk. Assim, ambas ficaram impedidas de participar de competições da Federação Internacional de Esqui (FIS, na sigla em francês). O documento que anuncia a destituição das atletas não explica os motivos que levaram à decisão, de acordo com a agência Reuters.

Sergei, que disputou sete vezes os Jogos de Inverno na modalidade do esqui de fundo, participou de manifestações populares contra Lukashenko após a eleição presidencial de agosto de 2020. Ele também é o treinador da filha e diz que pretende continuar com os treinamentos na Polônia. “Não vejo a possibilidade de ela continuar sua carreira em Belarus”, disse Sergei.

Darya Dolidovich, esquiadora belarussa que fugiu para a Polônia (Foto: reprodução/Facebook)

Segundo o ex-atleta, o risco de permanecer no país sendo oposicionista de Lukashenko é muito alto. “Podemos ser acusados de fazer uma manifestação e gritar slogans (de oposição) e depois sermos mandados para a prisão“, afirmou. “Três meses atrás, eu não poderia imaginar, mesmo em um pesadelo, que acabaria deixando meu país”.

Aos 17 anos de idade, Darya treinava com o objetivo de um dia disputar os Jogos de Inverno. Ao deixar o país de origem, ela também teve que interromper os estudos, vez que estava prestes a completar o ensino médio. “Eu tinha planejado terminar a escola em Belarus, mas meus pais disseram que estávamos nos mudando. Estou chateada, claro. Teria sido mais simples ficar alguns meses e terminar a escola”, disse ela.

Outro caso

Em agosto de 2021, a velocista belarussa Krystsina Tsimanouskaya também buscou refúgio na Polônia após decidir não retornar a Belarus. Durante os Jogos Olímpicos de Tóquio, a atleta disse temer por sua segurança e se recusou a pegar um voo de volta a seu país natal.

À época, a atleta criticou a “negligência” de seus treinadores e foi classificada como “traidora” pela televisão estatal belarussa. Ainda no Japão, onde competiria nos Jogos Olímpicos, teria sido aconselhada pela avó, durante conversa telefônica, a não retornar. No aeroporto, antes de pegar o voo, pediu ajuda à polícia local e conseguiu não embarcar. Posteriormente, ficou na Embaixada da Polônia até receber asilo.

Por que isso importa?

Belarus testemunha uma crise de direitos humanos sem precedentes, com fortes indícios de desaparecimentos, tortura e maus-tratos como forma de intimidação e assédio contra seus cidadãos. Dezenas de milhares de opositores ao regime de Lukashenko, no poder desde 1994, foram presos ou forçados ao exílio desde as controversas eleições de 2020.

O presidente, chamado de “último ditador da Europa”, parece não se incomodar com a imagem autoritária, mesmo em meio a protestos populares e desconfiança crescente após a reeleição, marcada por fortes indícios de fraude. A porta-voz do presidente, Natalya Eismont, chegou a afirmar em 2019, na televisão estatal, que a “ditadura é a marca” do governo de Belarus.

Desde que os protestos começaram, após o controverso pleito, as autoridades do país têm sufocado ONGs e a mídia independente, como parte de uma repressão brutal contra cidadãos que contestam os resultados oficiais da votação. Ativistas de direitos humanos dizem que há atualmente mais de 800 prisioneiros políticos no país.

O desgaste com o atual governo, que já se prolonga há anos, acentuou-se em 2020 devido à forma como Lukashenko lidou com a pandemia, que chegou a chamar de “psicose”. Em determinado momento, o presidente recomendou “vodka e sauna” para tratar a doença.

No final de 2021, Belarus passou a sofrer acusações também da União Europeia (UE), por patrocinar a tentativa de migrantes e deslocados ingressarem no bloco. São expatriados do Oriente Médio, do Sudeste Asiático e da África que tentam cruzar as fronteiras com Polônia, Lituânia e Estônia.

As autoridades belarussas negam as acusações e direcionam ataques à UE, usando como argumento o fato de que Bruxelas não estaria oferecendo passagem segura aos migrantes, que estariam enfrentando um frio congelante enquanto os países medem forças.

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