Rapper que protestou contra a guerra é rotulado como ‘agente estrangeiro’ na Rússia

Artista classificou a agressão russa como "uma catástrofe e um crime", cancelou turnê que faria pela Rússia e hoje faz shows no exterior

Uma decisão anunciada por Moscou na última sexta-feira (7) inseriu o rapper Oxxxymiron na lista de “agentes estrangeiros”, pelo fato de ele ter se manifestado contra a guerra iniciada pela Rússia ao invadir a Ucrânia em 24 de fevereiro. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

O artista, que classificou a agressão como “uma catástrofe e um crime”, cancelou a turnê que faria pela Rússia, deixou o país e então passou a realizar shows de protesto em diversos lugares, como Turquia, Alemanha e Reino Unido. Parte da renda das apresentações no exterior, intituladas “Russos Contra a Guerra”, é dedicada a apoiar vítimas do conflito.

Além dele, ativistas, jornalistas e intelectuais foram rotulados como “agentes estrangeiros”. O termo carrega conotações negativas da era soviética e, na prática, é atribuído a inimigos do Kremlin acusados de receber financiamento estrangeiro e servir a governos inimigos.

Outra figura bastante popular rotulada por Moscou é o escritor Dmitry Glukhovsky, autor do livro de ficção Metro 2033 (editora Planeta), que deu origem a um popular jogo de videogame.

Glukhovsky, que acredita-se estar vivendo no exterior, já havia sido julgado e condenado à revelia sob a acusação de “desacreditar as forças armadas“, com base em uma lei de março que visa a punir aqueles que contestam a invasão da Ucrânia.

Em junho, após a condenação e considerando o fato de que o escritor possivelmente não está na Rússia atualmente, o nome dele foi inserido em uma lista de criminosos procurados do Ministério do Interior.

Rapper russo Oxxxymiron: protesto contra a guerra (Foto: reprodução/Facebook)
Por que isso importa?

Na Rússia, protestar contra o governo já não era uma tarefa fácil antes da eclosão da guerra na Ucrânia. Os protestos coletivos desapareceram das ruas a partir do momento em que a Justiça local passou a usar a pandemia de Covid-19 como pretexto para punir grandes manifestações, alegando que o acúmulo de pessoas feria as normas sanitárias. Assim, tornou-se comum ver manifestantes solitárias erguendo cartazes com frases contra o governo.

Desde a invasão do país vizinho por tropas russas, no dia 24 de fevereiro, o desafio dos opositores do presidente Vladimir Putin aumentou consideravelmente, com novos mecanismos legais à disposição do Estado e o aumento da violência policial para silenciar os críticos. Uma lei do início de março, com foco na guerra, pune quem “desacredita o uso das forças armadas”.

Dentro dessa severa nova legislação, os detidos têm que pagar multas que chegam a 300 mil rublos (R$ 25,5 mil). A pena mais rigorosa é aplicada por divulgar “informações sabidamente falsas” sobre o exército e a “operação militar especial” na Ucrânia, que é como o governo descreve a guerra. A reclusão pode chegar a 15 anos.

O cenário mudou com a mobilização militar parcial anunciada por Putin no dia 20 de setembro. O risco de serem obrigados a lutar na Ucrânia levou milhares de reservistas a fugir do país, com fronteiras lotadas em países como GeórgiaMongólia e Cazaquistão. Entre os que ficaram, a ideia de aceitar a convocação não é unanimidade, e protestos populares voltaram a ser registrados em todos os cantos. 

Somente na primeira semana que sucedeu o anúncio, a ONG OVD-Info, que monitora a repressão estatal na Rússia, registrou quase 2,5 mil detenções em protestos populares contra a mobilização. E o número real de detidos tende a ser maior, vez que a entidade contabiliza somente os nomes que confirmou e que foi autorizada a divulgar, tendo sempre como base as listas fornecidas pelas autoridades.

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