Olaf Scholz cita encontro com Xi Jinping e diz que ameaça nuclear da Rússia diminuiu

Putin alertou que o risco de um conflito nuclear está "crescendo", mas "sob nenhuma circunstância" usaria tais armas primeiro

O risco de a Rússia usar armas nucleares na guerra em curso na Ucrânia diminuiu, ao menos “por enquanto”. A afirmação foi feita pelo chanceler alemão Olaf Scholz, que citou a pressão internacional e um encontro que teve com o presidente da China, Xi Jinping, como razões para a redução da ameaça.

Segundo Scholz, ele e Xi concordaram que “armas nucleares não devem ser usadas”, posição que foi reforçada posteriormente pelos países do G20, grupo que engloba as 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia (UE).

“A Rússia parou de ameaçar usar armas nucleares em resposta à comunidade internacional, que traçou uma linha vermelha”, disse Scholz em entrevista divulgada nesta quinta-feira (8) à rede alemã Funke e com informações reproduzidas pela Deutsche Welle (DW).

O chanceler disse ainda que seguirá apoiando a Ucrânia no conflito, mas sem envolver diretamente as forças armadas da Alemanha. “Estamos fazendo tudo o que podemos para evitar uma guerra direta entre a Rússia e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Tal conflito teria apenas perdedores. Em todo o mundo”.

Olaf Scholz, chanceler da Alemanha, em imagem de fevereiro de 2022 (Foto: WikiCommons)

As palavras do chanceler surgem um dia após o presidente russo Vladimir Putin ter dito que seu país somente usaria armas nucleares em caso de retaliação. Em uma reunião governamental televisionada, ele afirmou que o risco de um conflito nuclear está “crescendo”, mas que “sob nenhuma circunstância” usaria tais armamentos primeiro.

“Não enlouquecemos, estamos cientes do que são as armas nucleares”, disse Putin. “Não estamos prestes a correr pelo mundo brandindo esta arma como uma navalha”.

A manifestação do líder russo marcou uma mudança de posição em relação ao que ele próprio havia dito em setembro. Naquela ocasião, alertou os inimigos de que seu país tem “várias armas de destruição em massa” e disse que “usaria todos os meios disponíveis” caso fossem necessários.

Ameaça nuclear

Atualmente, a Rússia tem a maior quantidade de ogivas nucleares ativas do mundo, com cerca de 4,5 mil. Já os EUA aparecem em segundo, com 3,75 mil. A China aparece bem atrás, com 350, seguida por França, 290, Reno Unido, 225, Paquistão, 165, e Índia, 156.

Embora o debate nuclear no momento circule em torno da Rússia, é a China quem mais preocupa o Ocidente. Relatório divulgado pelo Pentágono no final de novembro revelou que Beijing planeja ampliar seu arsenal nuclear nos próximos anos.

A intenção do governo chinês é chegar a 1,5 mil ogivas nucleares até o ano 2035, o que levaria o Exército de Libertação Popular (ELP) a quadruplicar seu poderio atômico e assim reduzir o vão que o separa das forças armadas dos EUA.

A iniciativa chinesa, bem como a aliança classificada por Beijing como “sem limites” com os russos, gera dúvidas quanto à intenção do governo da China por trás desse processo de expansão nuclear.

Bonny Lin, diretor do projeto de energia da China no think tank norte-americano Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, questiona se o aumento do arsenal indica uma mudança na postura chinesa de que não se deve realizar o primeiro disparo, exatamente como disse Putin.

Segundo John Erath, diretor sênior do Centro de Controle de Armas e Não-Proliferação, a guerra na Ucrânia ajuda a direcionar a análise do comportamento chinês. “Se a Rússia conseguir alcançar seus objetivos por meio de ameaças nucleares, a China tirará lições disso e poderá potencialmente fazer esse tipo de ameaça contra Taiwan ou outros países vizinhos em conexão com as ambições territoriais da China”, afirmou ele.

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