Rússia confirma que posicionará armas nucleares na fronteira de Belarus com países da Otan

Embaixador russo em Minsk diz que a medida, antecipada por Putin, ocorrerá "apesar do barulho na Europa e nos Estados Unidos"

Rússia e Belarus confirmaram nos últimos dois dias que armas nucleares táticas serão posicionadas na fronteira belarussa com países que integram a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). As informações são da agência Al Jazeera.

O alerta foi feito inicialmente no dia 26 de março pelo presidente russo Vladimir Putin, e agora os dois governos confirmaram a medida. Trata-se da mais relevante manobra nuclear do país desde o início da guerra na Ucrânia e representa uma considerável escalada de tensão entre Moscou e o Ocidente.

“Isso será feito apesar do barulho na Europa e nos Estados Unidos”, disse à televisão estatal belarussa Boris Gryzlov, embaixador russo em Minsk. Ainda segundo ele, o posicionamento do armamento nuclear no país aliado é uma forma de “garantir a segurança” das duas nações.

Embora Belarus faça fronteira com três países membros da Otan, Lituânia, Letônia e Polônia, Moscou e Minsk não especificaram onde as armas serão posicionadas. Gryzlov disse apenas que as instalações para receber o arsenal nuclear serão concluídas em 1º de julho.

Encontro entre Alexander Lukashenko e Vladimir Putin em 2015 (Foto: Wikimedia Commons)

Quando fez o anúncio, na semana passada, Putin afirmou que o movimento ocorreria “sem violar nossos acordos internacionais de não proliferação nuclear”, dizendo que a ação se assemelha ao posicionamento de armas nucleares pelos EUA na Europa.

Alguns sistemas de mísseis táticos Iskander, que podem ser usados ​​para lançar armas nucleares, já foram transferidos para Minsk, disse Putin em seu discurso. Antes, no final de agosto de 2022, o presidente belarusso Alexander Lukashenko havia anunciado que as forças armadas do país dele modificaram aviões militares para que sejam capazes de carregar ogivas nucleares.

As armas nucleares táticas têm alcance reduzido, com precipitação radioativa limitada a cerca de um quilômetro. Diferente das armas nucleares estratégicas, capazes de destruir cidades inteiras como ocorreu em Hiroshima e Nagasaki em 1945, as táticas servem para aniquilar posições estratégicas do inimigo.

Calcula-se que a Rússia tenha à disposição de suas forças armadas cerca de 1,9 mil ogivas nucleares táticas, o maior arsenal do tipo no mundo. Tais armas podem ser disparadas pela maioria dos jatos das forças armadas russas, bem como por lançadores de foguetes e mísseis convencionais.

Por que isso importa?

A aliança entre Belarus e Rússia é anterior à invasão da Ucrânia, mas se fortaleceu com a guerra. O país comandado por Alexander Lukashenko permitiu que Moscou, sob o governo do aliado Vladimir Putin, acumulasse tropas na região de fronteira e posteriormente usasse o território belarusso como passagem para as forças armadas russas.

A situação tem levado governos e entidades ocidentais a incluírem Belarus em inúmeras sanções impostas à Rússia em função da guerra, mesmo que Minsk não tenha enviado soldados para combater ao lado das tropas da nação aliada.

Em artigo publicado em 12 de agosto do ano passado, intitulado “Não nos esqueçamos do envolvimento de Belarus na guerra da Rússia na Ucrânia”, o jornalista ucraniano Mark Temnycky destacou o papel belarusso como viabilizador do ataque e cobrou punições ainda mais severas a Minsk.

“Ao apresentar a Putin uma base de operações para sua invasão ilegal e desnecessária da Ucrânia, Lukashenko é culpado por associação. Em vez de condenar a guerra, o presidente belarusso afirmou repetidamente que apoia as ações da Rússia na Ucrânia”, disse ele.

A submissão de Minsk a Moscou é tamanha que o jornalista russo Konstantin Eggert chegou a afirmar, em artigo publicado pela rede Deutsche Welle (DW), em março de 2022, que “o Kremlin vem consolidando seu controle sobre o país vizinho” nos últimos anos. E isso, segundo ele, “aponta para o objetivo de a Rússia absorver Belarus de uma forma ou de outra, embora possa permanecer oficialmente no mapa com Lukashenko como governante”.

O próprio presidente belarusso levantou essa possibilidade em agosto de 2021, embora não tenha manifestado muito otimismo na conclusão do processo. “Quando falamos de integração, devemos entender claramente que isso significa integração sem nenhuma perda de Estado e soberania”, disse na ocasião.

Mais recentemente, o embaixador dos EUA na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Michael Carpenter, afirmou que Belarus pode ter o mesmo destino da Ucrânia após a guerra, vez que o objetivo da Rússia é “apagar a soberania” das duas nações. Segundo ele, Putin já “deixou claro” que os países “pertencem” à Rússia.

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