A Justiça da Rússia negou asilo à jornalista e ativista afegã pelos direitos das mulheres Kobra Hassani, que agora corre o risco de retornar ao país de origem, onde é procurada pelo Taleban e está sujeita inclusive à pena de morte. As informações são do site Fontaka.
Hassani deixou o Afeganistão para fugir da repressão imposta pelo Taleban, que assumiu o governo do país em agosto de 2021. Então, obteve refúgio na Ucrânia e tentava chegar à Polônia, mas a guerra que explodiu no território ucraniano em fevereiro de 2022 a levou para a Rússia.
A ativista continuava disposta a chegar à União Europeia (UE) quando foi detida por autoridades russas em 2022, junto com outras 12 pessoas que faziam o mesmo trajeto. Acusada de entrar ilegalmente no país, foi julgada e condenada.
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Em fevereiro deste ano, após cumprir a pena pela entrada ilegal, foi libertada e obteve uma vitória parcial, na Justiça, com um tribunal determinando que a ordem de deportação fosse suspensa. Agora, entretanto, o pedido de asilo, que permitiria a ela permanecer definitivamente no país, foi negado.
Em contato com membros da diáspora afegã e advogados da ativista, o Fontaka diz ter sido informado de que ela embarcou de volta ao Afeganistão na quarta-feira (25). “Havia muitas opções de saída, da Albânia à Alemanha. Mas tudo exigia esforço, tempo e dinheiro”, afirmou a advogada Maria Belyaeva.
Posteriormente, entretanto, a agência estatal de notícias russa Tass desmentiu tal informação, dizendo que também conversou com um dos defensores dela. “Não confirmo que Hassani tenha embarcado num avião para o Afeganistão. Ela me proibiu de fazer qualquer comentário à imprensa”, teria dito este segundo advogado.
Embora oficialmente classifique o Taleban como uma organização terrorista, o governo russo iniciou uma aproximação desde que o grupo ascendeu ao poder no Afeganistão. Empenhado em manter o diálogo com os radicais, o Kremlin inclusive iniciou um processo que pode culminar com a remoção dos talibãs da lista de extremistas.
“Este é um país que está próximo a nós e, de uma forma ou de outra, nos comunicamos com eles. Precisamos resolver questões urgentes, o que também requer diálogo. Portanto, nesse sentido, nos comunicamos com eles como praticamente todo mundo. Eles são a autoridade de fato no Afeganistão”, disse em abril o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
Apartheid de gênero
Caso seja de fato obrigada a retornar ao Afeganistão, Hassani estará sujeita à dura repressão imposta pelo Taleban às mulheres e meninas. A situação foi classificada pela ONU (Organização das Nações Unidas) em setembro de 2023 como “apartheid de gênero”, de acordo com o relator especial sobre a situação de direitos humanos no Afeganistão, Richard Bennett.
Segundo ele, a discriminação sistemática, generalizada e institucionalizada estabelecida no país tem o objetivo de excluir as mulheres de todas as facetas da vida. Bennett pediu ao Taleban que reverta suas “políticas draconianas e misóginas” e lamentou que o Afeganistão tenha se tornado “um lugar onde as vozes das mulheres desapareceram completamente.”
As restrições impostas ás afegãs incluem a proibição de estudar, trabalhar e sair de casa sem a presença de um homem. Isso levou à perda de emprego por muitas mulheres e contribui para o empobrecimento da população. Em julho do ano passado, o Taleban também vetou mulheres de gerenciar salões de beleza, impactando severamente a renda de famílias já afetadas pela crise financeira.
De acordo com o alto-comissário de direitos humanos da ONU, Volker Turk, “o nível chocante de opressão contra mulheres e meninas afegãs é incomensuravelmente cruel.”