Rússia planejou genocídio antes da invasão, afirma chefe de inteligência da Ucrânia

Listas de execução, crematórios móveis e valas comuns faziam parte do plano, descrito como política de Estado e crença social na Rússia

A Rússia estruturou ações genocidas contra o povo ucraniano antes de sua invasão em larga escala em fevereiro de 2022. A afirmação é Kyrylo Budanov, chefe da Direção Principal de Inteligência da Ucrânia (HUR), que falou durante um fórum para abordar o que Kiev classifica como “práticas genocidas” por parte de Moscou na guerra. As informações são do site Kyiv Post.

Segundo Budanov, o plano russo incluía listas de assassinatos, crematórios móveis e diretrizes para covas coletivas. Ele ainda destacou um texto do presidente russo Vladimir Putin no qual o chefe do Kremlin nega a existência de uma nação ucraniana e, de acordo com o ucraniano, pavimenta o caminho para as atrocidades subsequentes.

“A preparação da Rússia para o genocídio contra o povo ucraniano antes da invasão em grande escala incluiu a criação de listas de extermínio, crematórios móveis e planos para enterros em massa”, afirmou a autoridade ucraniana.

Kyrylo Budanov, chefe da Direção Principal de Inteligência da Ucrânia (Foto: gur.gov.ua/WikiCommons)

O chefe da inteligência destacou que a propaganda russa e as autoridades do país, lideradas por Putin, fomentaram uma política sistemática de destruição dos ucranianos. “A genocídio não é apenas uma política de Estado da Federação Russa, mas também uma crença social profundamente enraizada e imposta pela liderança estatal”, declarou Budanov.

Além disso, ele revelou que militares russos receberam instruções antes da invasão para identificar alvos como professores de língua ucraniana, jornalistas, líderes religiosos pró-Ucrânia e figuras públicas. Esses alvos compunham as chamadas “listas de execução”, reforçando o caráter premeditado das ações.

Cidades como Borodyanka, Hostomel, Izyum Bucha e Mariupol foram citadas como locais onde as forças russas cometeram atrocidades que, segundo Budanov, refletem uma política doutrinária genocida. “Esses crimes não são atos isolados de violência, mas ações deliberadas enraizadas na política genocida russa”, acrescentou.

Vadym Skibitsky, outro representante da inteligência ucraniana, abordou a questão do sequestro de crianças ucranianas em territórios ocupados. Ele afirmou que o objetivo da Rússia é apagar a identidade ucraniana dessas crianças por meio de cerca de 50 programas especiais de reprogramação.

“Resgatar essas crianças é um processo extremamente lento e complexo, cada uma delas sendo praticamente arrancada das garras desse dragão de três cabeças”, disse Skibitsky.

A deportação em massa forçada de pessoas durante um conflito é classificada pelo Direito Internacional Humanitário como um crime de guerra. A transferência forçada de crianças, particularmente, configura um ato genocida. No caso da guerra da Ucrânia, tais denúncias surgiram ainda nos primeiros dias de combate e desde então vêm aumentando.

Em junho de 2022, menos de quatro meses após a invasão russa, a então alta comissária da ONU (Organização das Nações Unidas) para os direitos humanos, Michelle Bachelet, disse que seu escritório investigava tais alegações. Ela destacou a suspeita de que crianças ucranianas órfãs vinham sendo adotadas por famílias russas sem o devido procedimento legal e citou relatos de que a Rússia estava “modificando a legislação existente para facilitar o andamento das adoções” em Donetsk e Luhansk. 

A extração de crianças ucranianas levou o  Tribunal Penal Internacional (TPI) a emitir um mandado de prisão contra Putin e Maria Alekseyevna Lvova-Belova, comissária para os Direitos da Criança no gabinete dele. Segundo a corte, os crimes que motivaram os mandados “teriam sido cometidos em território ucraniano ocupado pelo menos desde 24 de fevereiro de 2022”, data da invasão russa.

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