Rússia tem recrutado soldados afegãos treinados pelos EUA para combater na Ucrânia

Militares russos buscam ex-soldados das forças especiais afegãs com ofertas de pagamentos fixos de US$ 1.500 por mês e promessas de refúgios seguros para eles e suas famílias

Soldados do exército do Afeganistão que lutaram ao lado de forças estrangeiras e depois fugiram para o Irã em meio à tumultuada retirada dos EUA do território afegão, há pouco mais de um ano, resultando na tomada do poder pelo Taleban, agora estão indo para um outro front. Segundo militares veteranos, eles estariam sendo recrutados por uma conhecida organização paralimitar russa para ampliar os esforços de guerra na Ucrânia. As informações são da agência Associated Press (AP).

As fontes são três generais afegãos. Eles revelaram que os russos estão atrás de milhares de ex-comandos das forças especiais afegãs com o objetivo de criar uma qualificada “legião estrangeira”. A oferta parece tentadora: US$ 1,5 mil por mês (R$ 7,7 mil) e a promessa de refúgio seguro para eles e as famílias, o que significa o fim do medo de uma deportação, que poderia resultar em morte pelas mãos da organização extremista que hoje controla Cabul.

“Eles não querem lutar, mas não têm escolha”, disse um dos generais, Abdul Raof Arghandiwal.

Em meio à retirada estrangeira, confronto entre forças afegãs e Taleban deixa 23 mortos
Soldados afegãos em ofensiva contra o Taleban na província de Helmand, novembro de 2012 (Foto: Divulgação/Al-Jazeera/Creative Commons)

O militar disse que esteve em contato com pelo menos 12 comandos no Irã por mensagens de texto. Entre os soldados, há um sentimento em comum: voltar para a terra natal pode ser pior que lutar numa guerra que não é deles.  

“Eles me perguntam: ‘Dê-me uma solução. O que deveríamos fazer? Se voltarmos ao Afeganistão, o Taleban vai nos matar’”, relata o general.

Arghandiwal acrescentou que o Wagner Group, organização de mercenários associada ao Kremlin e acusada de crimes de guerra em conflitos dos quais participou em diversas partes do mundo, está por trás do recrutamento. Outro general, Hibatullah Alizai, o último comandante do exército afegão antes da ascensão talibã, disse que a busca desses reforços conta com um ex-comandante das forças especiais afegãs que viveu na Rússia e fala a língua.

Em agosto, um relatório emitido pelo Partido Republicano norte-americano alertou sobre os risco de que os comandos afegãos, treinados por Seals (força especial da Marinha dos EUA) e Boinas Verdes do Exército, possam fornecer informações sobre as táticas norte-americanas ao Estado Islâmico (EI), ao Irã ou a Moscou. Ou até mesmo lutar ao lado deles.

Os comandos afegãos foram definidos por Michael Mulroy, um oficial aposentado da CIA (agência de inteligência dos EUA) que serviu no Afeganistão, como combatentes “ferozes” e “altamente qualificados”. Características que os tornam soldados que força nenhuma quer ter como adversários.

“Eu não quero vê-los em nenhum campo de batalha, francamente, nem lutando contra os ucranianos”, disse.

A busca por militares afegãos ocorre enquanto as forças russas se recuperam do baque sofrido por conta de áreas recentemente reconquistadas pelas forças ucranianas, o que fez o presidente russo, Vladimir Putin, ordenar um recrutamento militar emergencial, que levou até 200 mil homens russos a fugirem do país para driblar a mobilização.

O Ministério da Defesa da Rússia não se pronunciou sobre o recrutamento de comandos afegão. Um porta-voz de Yevgeny Prigozhin, importante aliado de Putin que recentemente reconheceu ser o fundador do Wagner Group, afastou a ideia de esforços em busca de ex-soldados afegãos, classificando a alegação como um “louco absurdo”.

Dados da ONG Human Rights Watch (HRW) dão conta de que mais de cem ex-soldados afegãos, oficiais de inteligência e policiais foram mortos ou “desapareceram” apenas três meses depois que o Taleban assumiu o poder, apesar das promessas de anistia feita anteriormente pelos rebeldes. 

Já a ONU (Organização das Nações Unidas), em um relatório divulgado em outubro, documentou 160 execuções extrajudiciais e 178 prisões de ex-funcionários do governo afegão deposto e militares.

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