Rússia acusa de deserção 300 soldados do Cáucaso que se recusaram a lutar

Grupo é formado por homens da República do Daguestão, região predominantemente muçulmana no sul da Rússia

Um contingente de aproximadamente 300 soldados de uma unidade militar no norte do Cáucaso russo se recusou a combater na Ucrânia e voltou para casa em março, logo no primeiro mês da guerra. Eles agora são acusados de deserção, fazendo parte de um movimento crescente, segundo informações do jornal independente The Moscow Times.

O grupo, formado por homens da República do Daguestão, região predominantemente muçulmana no sul da Rússia, estava destacado na região separatista pró-Moscou de Donbass, no leste ucraniano. Mesmo sem receber a autorização de superiores, todos eles teriam retornado à cidade de Buynaksk, onde fica a base de onde foram enviados ao front.

Soldado russo durante exercícios militares na região de Pskov (Foto: WikiCommons)

Lá, eles teriam rescindido os contratos com o exército russo e foram acolhidos pela comunidade local como desertores. Alguns dos soldados regressaram com queimaduras de frio devido à exposição ao rigoroso inverno do leste europeu e tiveram membros que precisaram ser amputados.

“Os militares alegaram que tiveram problemas com uniformes e armas”, alegou à reportagem um advogado de Moscou não identificado que representa os soldados.

Segundo a defesa, os 300 soldados poderão agora enfrentar acusações criminais por deserção, já que estiveram ausentes do campo de batalha por mais de dez dias. 

Segundo ativistas de direitos humanos, devido à pressão de autoridades e familiares, diversos desses combatentes acabaram se realistando. O cenário não é animador para eles: as tropas do Daguestão figuram entre os grupos étnicos russos com os maiores números de baixas registradas desde o início do conflito, no dia 24 de fevereiro.

O caso dos militares do Daguestão não é isolado. No início de julho, aproximadamente 150 soldados da República de Buriácia, na região da Sibéria, também recusaram ir para o campo de batalha após assistirem um apelo em vídeo gravado por suas esposas.

Juntas, Daguestão e Buriácia somam o maior número de vítimas contabilizadas no conflito: mais de 200 mortes em cada região.

O preço da deserção

O processo para que um russo não seja enviado ao campo de batalha é relativamente simples, vez que Moscou não considera o conflito uma guerra. Pela lei, basta alegar “convicções antiguerra” para ficar fora da “operação militar especial”. Não deixa de ser irônico, vez que o governo tem se desdobrado para combater protestos antiguerra e até criou uma lei para punir aqueles que contestam a invasão.

Embora juridicamente simples, a recusa tem um preço. Invariavelmente, aqueles que pedem para não lutar são expulsos do exército ou da Guarda Nacional, esta última uma unidade armada habitualmente encarregada de manter a ordem pública em território russo.

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