Tsikhanouskaia começa a ser julgada em Belarus e projeta pena: “Muitos anos de prisão”

Líder da oposição belarussa chama o presidente Alexander Lukashenko de "ditador patético" e diz que julgamento é "uma farsa"

A Justiça de Belarus começou nesta terça-feira (17) o julgamento de Sviatlana Tsikhanouskaia, que lidera a oposição ao presidente Alexander Lukashenko. Derrotada na eleição de 2020, um pleito que gerou denúncias globais de fraude a favor do ditador, ela será julgada à revelia, pois atualmente vive no exílio. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

No início do julgamento, em um tribunal da capital Minsk, os advogados que defendem a política tiveram negado um pedido para que todas as acusações fossem retiradas, e o processo, arquivado. Outras quatro pessoas associadas a ela, todas igualmente vivendo no exterior, também estão sendo julgadas à revelia.

A líder da oposição Sviatlana Tsikhanouskaia, janeiro de 2021 (Foto: Divulgação/Estonian Foreign Ministry)

Formalmente, as acusações contra o grupo incluem alta traição, organização de desordem em massa, criação de um grupo extremista, incitação ao ódio, conspiração para tomar o poder e pedidos de sanções internacionais contra Belarus.

“Esses julgamentos não são julgamentos. É um show. É uma farsa e não tem nada a ver com justiça”, disse Tsikhanouskaia na segunda-feira (16). “Não sei por quanto tempo esse julgamento vai durar, quantos dias, mas tenho certeza que vão me sentenciar a muitos, muitos anos de prisão”, acrescentou a líder oposicionista, segundo o jornal The Moscow Times.

Através Twitter, ela ainda chamou Lukashenko de “ditador patético” e disse que não se importa com o veredito. “O julgamento contra mim começa hoje em Minsk. Sou acusada de mais de dez crimes. Isso muda alguma coisa para mim? Nada. É apenas a vingança de um ditador patético que perdeu o poder e tenta se vingar de todos que lutaram pela liberdade. Belarus precisa de justiça real, não de um show de marionetes”.

Outro alvo da Justiça belarussa é Sergei Tsikhanouski, marido de Sviatlana e atualmente cumprindo pena de 18 anos de prisão. Ele foi proibido de concorrer à presidência em 2020, o que levou a mulher a assumir o posto. Agora, enfrenta uma nova acusação por supostamente desobedecer as autoridades carcerárias, o que tende a aumentar a pena já imposta a ele.

Por que isso importa?

Belarus testemunha uma crise de direitos humanos sem precedentes, com fortes indícios de desaparecimentos, tortura e maus-tratos como forma de intimidação e assédio contra seus cidadãos. Dezenas de milhares de opositores ao regime de Lukashenko, no poder desde 1994, foram presos ou forçados ao exílio desde as controversas eleições no ano passado.

O presidente, chamado de “último ditador da Europa”, parece não se incomodar com a imagem autoritária, mesmo em meio a protestos populares e desconfiança crescente após a reeleição de 2020, marcada por fortes indícios de fraude. A porta-voz do presidente Natalya Eismont chegou a afirmar em 2019, na televisão estatal, que a “ditadura é a marca” do governo de Belarus.

Desde que os protestos populares tomaram as ruas do país após o controverso pleito, as autoridades belarussas têm sufocado ONGs e a mídia independente, parte de uma repressão brutal contra cidadãos que contestam os resultados oficiais da votação. A organização de direitos humanos Viasna diz que há atualmente mais de 1,4 mil prisioneiros políticos no país.

O desgaste com o atual governo, que já se prolonga há anos, acentuou-se em 2020 devido à forma como ele lidou com a pandemia, que chegou a chamar de “psicose”. Em determinado momento, o presidente recomendou “vodka e sauna” para tratar a doença.

Já o distanciamento entre o país e o Ocidente aumentou com a guerra na Ucrânia, vez que Belarus é aliada da Rússia e permitiu que tropas de Moscou usassem o território belarusso para realizar a invasão.

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