Entre as últimas horas de quinta-feira (28) e o início desta sexta (29), pelo horário local, a Rússia despejou sobre o território da Ucrânia mísseis e drones em uma escala até então inédita na guerra iniciada no dia 24 de fevereiro de 2022. A informação partiu de autoridades ucranianas através das redes sociais, com informações adicionais divulgadas pela imprensa internacional.
Em sua conta na rede social X, antigo Twitter, o Ministério da Defesa da Ucrânia afirmou que 158 mísseis e drones foram usados por Moscou. “Nesta manhã, a Rússia realizou o ataque aéreo mais massivo desde o início da invasão em grande escala”, diz a postagem. “Os ocupantes usaram uma variedade de tipos de mísseis balísticos, mísseis de cruzeiro lançados do ar e UAVs (veículos aéreo não tripulados, da sigla em inglês) Shahed para atingir alvos civis.”
This morning, russia carried out the most massive air attack since the beginning of the full-scale invasion.
— Defense of Ukraine (@DefenceU) December 29, 2023
The occupiers used a variety of types of ballistic missiles, air-launched cruise missiles, and Shahed UAVs to target civilian targets. A total of 158 missiles and UAVs… pic.twitter.com/oFtnhacj9r
De acordo com Kiev, a ofensiva durou cerca de 18 horas e atingiu principalmente alvos civis, como edifícios residenciais, hospitais, escolas e shopping centers em todo o país. O governo ucraniano concluiu a manifestação dizendo que os “terroristas” russos “devem ser punidos” pelos ataques contra civis.
A agência Associated Press (AP) foi mais específica e disse que o ataque contou com 122 mísseis e 36 drones Shahed, um modelo originalmente iraniano que vem sendo fornecido às Forças Armadas da Rússia desde o início do conflito. A aliança entre Moscou e Teerã, inclusive, permitiu ao governo russo construir infraestrutura para produzir os UAVs em suas próprias fábricas.
Ainda segundo a AP, ao menos 13 civis foram mortos no ataque, mesmo ante à eficiência da defesa antiaérea ucraniana. As Forças Armadas de Kiev dizem ter conseguido interceptar 87 mísseis e 27 drones, o que deixaria 44 artefatos em condições de atingir o território ucraniano.
“Há feridos e mortos. Nossas condolências às famílias e amigos”, disse o primeiro-ministro ucraniano Denys Shmyhal, segundo relatou a rede CNN. “As forças de defesa aérea ucranianas demonstraram mais uma vez um elevado nível de profissionalismo. A maioria dos alvos aéreos foi abatida. Agradecemos aos soldados por salvarem vidas.”
Até então, o ataque russo mais intenso registrado pela Ucrânia havia ocorrido em novembro de 2022, quando 96 mísseis foram disparados. Em 2023, a mais dura campanha de Moscou havia ocorrido em 9 de março, com 81 mísseis.
Sem apoio do Ocidente
Andriy Yermak, chefe do Gabinete Presidencial da Ucrânia, também classificou a ação de Moscou como “terrorismo”, dizendo ainda que “foguetes estão voando contra nossas cidades novamente e civis estão sendo alvo.” E cobrou maior apoio ocidental, num momento em que tanto os EUA quanto a União Europeia (UE) enfrentam problemas políticos que ameaçam reduzir o envio de armas a Kiev.
“A Ucrânia precisa de apoio. Estaremos ainda mais fortes, estamos fazendo de tudo para fortalecer nosso escudo aéreo. Mas o mundo precisa ver que necessitamos de mais apoio e força para parar este terror”, afirmou Yermak.
Na quinta-feira (28), Washington confirmou seu último pacote de ajuda à Ucrânia, que totaliza US$ 250 milhões em defesa aérea, munição de artilharia, armas leves e armas antitanque, segundo a rede BBC. Daqui em diante, as entregas dependerão de nova aprovação do Congresso, mas um impasse entre os partidos Republicano e Democrata congelou o processo.
Os parlamentares norte-americanos seguem amplamente favoráveis aos esforços de guerra ucranianos, de acordo com a BBC. Mas os opositores republicanos usam a questão para pressionar o presidente Joe Biden, exigindo que o governo aprove medidas mais duras de combate à imigração para votar a favor da ajuda militar.
Já a Europa vive indefinição protagonizada pela Hungria e seu primeiro-ministro, Viktor Orbán, um aliado crucial do líder russo Vladimir Putin no continente. Com um voto contrário, o húngaro conseguiu impedir neste mês de dezembro o envio de 50 bilhões de euros em apoio financeiro a Kiev, vez que o bloco exige unanimidade para a aprovação dessas medidas.