Ucrânia relata o mais intenso ataque aéreo russo da guerra, com novas vítimas civis: ‘Terrorismo’

Segundo Kiev, Moscou disparou 122 mísseis e 36 drones, atingiu edifícios residenciais, hospitais e escolas e matou ao menos 13 pessoas

Entre as últimas horas de quinta-feira (28) e o início desta sexta (29), pelo horário local, a Rússia despejou sobre o território da Ucrânia mísseis e drones em uma escala até então inédita na guerra iniciada no dia 24 de fevereiro de 2022. A informação partiu de autoridades ucranianas através das redes sociais, com informações adicionais divulgadas pela imprensa internacional.

Em sua conta na rede social X, antigo Twitter, o Ministério da Defesa da Ucrânia afirmou que 158 mísseis e drones foram usados por Moscou. “Nesta manhã, a Rússia realizou o ataque aéreo mais massivo desde o início da invasão em grande escala”, diz a postagem. “Os ocupantes usaram uma variedade de tipos de mísseis balísticos, mísseis de cruzeiro lançados do ar e UAVs (veículos aéreo não tripulados, da sigla em inglês) Shahed para atingir alvos civis.”

De acordo com Kiev, a ofensiva durou cerca de 18 horas e atingiu principalmente alvos civis, como edifícios residenciais, hospitais, escolas e shopping centers em todo o país. O governo ucraniano concluiu a manifestação dizendo que os “terroristas” russos “devem ser punidos” pelos ataques contra civis.

A agência Associated Press (AP) foi mais específica e disse que o ataque contou com 122 mísseis e 36 drones Shahed, um modelo originalmente iraniano que vem sendo fornecido às Forças Armadas da Rússia desde o início do conflito. A aliança entre Moscou e Teerã, inclusive, permitiu ao governo russo construir infraestrutura para produzir os UAVs em suas próprias fábricas.

Edifício em Kiev destruído por bombardeio russo logo nos primeiros dias de conflito, em fevereiro de 2022 (Foto: UNICEF/UN0597991/Skyba for The Globe and Mail)

Ainda segundo a AP, ao menos 13 civis foram mortos no ataque, mesmo ante à eficiência da defesa antiaérea ucraniana. As Forças Armadas de Kiev dizem ter conseguido interceptar 87 mísseis e 27 drones, o que deixaria 44 artefatos em condições de atingir o território ucraniano.

“Há feridos e mortos. Nossas condolências às famílias e amigos”, disse o primeiro-ministro ucraniano Denys Shmyhal, segundo relatou a rede CNN. “As forças de defesa aérea ucranianas demonstraram mais uma vez um elevado nível de profissionalismo. A maioria dos alvos aéreos foi abatida. Agradecemos aos soldados por salvarem vidas.”

Até então, o ataque russo mais intenso registrado pela Ucrânia havia ocorrido em novembro de 2022, quando 96 mísseis foram disparados. Em 2023, a mais dura campanha de Moscou havia ocorrido em 9 de março, com 81 mísseis.

Sem apoio do Ocidente

Andriy Yermak, chefe do Gabinete Presidencial da Ucrânia, também classificou a ação de Moscou como “terrorismo”, dizendo ainda que “foguetes estão voando contra nossas cidades novamente e civis estão sendo alvo.” E cobrou maior apoio ocidental, num momento em que tanto os EUA quanto a União Europeia (UE) enfrentam problemas políticos que ameaçam reduzir o envio de armas a Kiev.

“A Ucrânia precisa de apoio. Estaremos ainda mais fortes, estamos fazendo de tudo para fortalecer nosso escudo aéreo. Mas o mundo precisa ver que necessitamos de mais apoio e força para parar este terror”, afirmou Yermak.

Na quinta-feira (28), Washington confirmou seu último pacote de ajuda à Ucrânia, que totaliza US$ 250 milhões em defesa aérea, munição de artilharia, armas leves e armas antitanque, segundo a rede BBC. Daqui em diante, as entregas dependerão de nova aprovação do Congresso, mas um impasse entre os partidos Republicano e Democrata congelou o processo.

Os parlamentares norte-americanos seguem amplamente favoráveis aos esforços de guerra ucranianos, de acordo com a BBC. Mas os opositores republicanos usam a questão para pressionar o presidente Joe Biden, exigindo que o governo aprove medidas mais duras de combate à imigração para votar a favor da ajuda militar.

Já a Europa vive indefinição protagonizada pela Hungria e seu primeiro-ministro, Viktor Orbán, um aliado crucial do líder russo Vladimir Putin no continente. Com um voto contrário, o húngaro conseguiu impedir neste mês de dezembro o envio de 50 bilhões de euros em apoio financeiro a Kiev, vez que o bloco exige unanimidade para a aprovação dessas medidas.

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