UE aprova medida que permite sanções contra os mercenários do Wagner Group

Sanções efetivas, a serem impostas em 2022, incluem proibição de viajar e congelamento de fundos pertencentes a indivíduos e entidades

A União Europeia (UE) anunciou nesta segunda-feira (13) a adoção de um regime especial que abre caminho para o bloco impor sanções contra o Wagner Group, uma misteriosa organização paramilitar privada acusada de cometer crimes de guerra em conflitos dos quais participou em diversas partes do mundo. A decisão surge após o governo do Mali contratar os serviços dos mercenários, suspeitos de atuarem conforme os interesses da Rússia.

A medida “permitirá que a UE imponha autonomamente medidas restritivas a indivíduos e entidades responsáveis por ameaçar a paz, a segurança ou a estabilidade do Mali, ou por obstruir a implementação da sua transição política”, disse o Conselho da UE em comunicado.

As medidas restritivas da UE, que devem ser efetivamente adotadas em 2022, “consistirão na proibição de viajar para indivíduos e no congelamento de fundos pertencentes a indivíduos e entidades. Além disso, pessoas e entidades na UE serão proibidas de disponibilizar fundos às pessoas listadas, direta ou indiretamente”.

O bloco explicou, entretanto, que a decisão desta segunda (13) apenas estabelece o novo quadro para medidas autônomas, mas que nenhuma pessoa ou entidade foi inserida na lista de sanções ainda.

A bandeira da União Europeia no Parlamento Europeu, em Bruxelas, ainda com a estrela do Reino Unido, em junho de 2013 (Foto: European Union/Pietro Naj-Oleari)

França x Rússia

A contratação dos mercenários para atuarem no Mali foi anunciada em setembro, com um contrato avaliado em 9,1 milhões de euros (R$ 57,8 milhões). Desde o início, a iniciativa foi reprovada pelo principal aliado militar ocidental do país, a França. Atualmente, há um processo de redução de tropas francesas no Mali, por ordem do próprio presidente francês Emmanuel Macron, já que há um amplo consenso de que a intervenção não estaria tendo êxito.

Wagner é uma milícia notória na Síria e na República Centro-Africana por ter cometido abusos e todos os tipos de violações que não correspondem a nenhum solução, e por isso é incompatível com a nossa presença”, disse o ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Yves Le Drian.

À época do acordo, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, confirmou a informação, embora sem citar nominalmente o grupo mercenário. E culpou Paris. “Eles (governo do Mali) recorreram a uma empresa militar privada da Rússia porque, pelo que entendi, a França quer reduzir significativamente seu contingente militar, que tinha, como todos sabem, a missão de combater terroristas”.

Por que isso importa?

Wagner Group é um grupo paramilitar privado cercado de mistério. Não há informações precisas sobre a misteriosa organização, mas há indícios de que ao menos dez mil pessoas já integraram o grupo, cuja primeira empreitada de que se tem notícia foi em 2014, quando se aliou a separatistas pró-Rússia contra o governo da Ucrânia. Desde então, há sinais de presença dos mercenários em conflitos em diversos países, como Líbia, Síria, Sudão, Moçambique e República Centro Africana.

Em agosto, um tablet perdido ajudou a expor os segredos da organização. Uma reportagem da rede britânica BBC teve acesso ao equipamento, que expõe a participação da milícia na guerra civil da Líbia, sugere a proximidade entre associados do grupo e o governo russo e dá fortes indícios de que os mercenários são responsáveis por inúmeros crimes de guerra.

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