Um ano após voltar à Rússia e ser preso, Navalny diz que não se arrepende

Em um post no Instagram direto da prisão, oposicionista inimigo número 1 de Putin não demonstra remorso

Exatamente um ano após desembarcar em Moscou e ser levado sob custódia pelas autoridades, o líder de oposição russo Alexei Navalny declarou nesta segunda-feira (17) que não se arrepende de ter retornado à Rússia. Mesmo que a Fundação Anticorrupção (FBK), movimento que ele coordena, tenha sofrido imensa repressão do Kremlin desde então. As informações são do jornal independente The Moscow Times.

Em 17 de janeiro de 2021, as autoridades não mostraram misericórdia quando Navalny voltou ao país natal após receber tratamento na Alemanha pelo envenenamento por novichok um agente nervoso tóxico de invenção soviética. Ele teria sido contaminado pela substância em Omsk, na Sibéria, viajou para se tratar em Berlim e foi detido logo após se recuperar e voltar à Rússia, sendo imediatamente enviado a um campo de trabalhos forçados. 

O Judiciário russo alega que o político esteve envolvido em um desfalque em uma subsidiária russa da empresa francesa de cosméticos Yves Rocher e a madeireira Kivovles. Nas palavras do oposicionista, sua detenção por tais acusações de fraude o impediram de “dar um único passo em meu país como uma pessoa livre”.

Alexei Navalny, oposicionista do presidente Vladimir Putin (Foto: reprodução/Instagram)

O inimigo número 1 de Vladimir Putin define seu trabalho, que se propõe a descortinar a corrupção de alto nível na Rússia, bem como seus esforços para ganhar apoio popular, como parte de um “cabo de guerra” entre a “bravura e o medo”.

“Tentei o máximo que pude puxar minha ponta da corda, puxando para o meu lado aqueles que são honestos e não têm mais medo”, escreveu Navalny em um post no Instagram feito por sua equipe, acrescentando: “Não me arrependo nem por um segundo”.

Navalny atribui o envenenamento ao Kremlin, que rechaça qualquer participação no episódio e até questiona se o incidente realmente ocorreu. Jornalistas investigativos ligam o caso à FSB (Agência Nacional de Segurança, da sigla em inglês).

O oposicionista cumpre uma sentença de dois anos e meio de prisão em uma colônia penal de alta segurança, a IK-2, 100 quilômetros a leste de Moscou. A prisão do oposicionista também repercutiu em uma ampla perseguição à FBK e a seus grupos políticos e ativistas, com uma decisão judicial formalmente banindo-os como “extremistas” em junho de 2021.

Novo julgamento

Na mesma postagem no Instagram, Navalny revelou que foi informado de que irá ao tribunal na próxima semana, para responder por um dos vários processos criminais adicionais abertos contra ele. “Há outro [julgamento] próximo, no qual sou um extremista e um terrorista”, escreveu ele. “Eu não sei quando minha jornada terminará ou se ela terminará”.

Nesta segunda (17), um tribunal rejeitou um recurso que Navalny havia feito contra as autoridades por seu tratamento na colônia penal e adiou a decisão referente a outro recurso.

Por que isso importa?

Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A principal plataforma do oposicionista é o combate à corrupção no governo de Vladimir Putin, em virtude da qual ele uma cobra profunda reforma na estrutura política do país.

Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Voltou a Moscou em janeiro de 2021 e foi detido ainda no aeroporto. Em fevereiro, foi julgado e condenado a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, quando foi acusado de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente quando estava em coma pela dose tóxica.

Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, ele chegou a fazer uma greve de fome de 23 dias em abril, para protestar contra a falta de atendimento médico. Em junho de 2021, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais de Navalny e sua Fundação Anticorrupção (FBK) de funcionarem, classificando-as como “extremistas”.

Em agosto, a Justiça russa abriu uma nova acusação criminal contra o oposicionista, o que poder ampliar a sentença de prisão dele em três anos. Ele foi acusado de “incentivar cidadãos a cometerem atos ilegais”, por meio da Fundação Anticorrupção (FBK) que ele criou. Mais recentemente, em setembro, uma terceira acusação contra, por “extremismo”, ameaça estender o encarceramento por até uma década.

Caso seja condenado em alguma das novas acusações, Navalny será mantido sob custódia no mínimo até o fim da próxima eleição presidencial, em 2024, quando chega ao fim o atual mandato de seis anos de Vladimir Putin no Kremlin.

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