por Julia Possa
As exportações da América Latina terão em 2020 seu pior desempenho em 80 anos. A queda foi a pior entre todos os continentes, de 23%. A situação foi classificada pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), como um “colapso” em coletiva nesta quinta (6).
De acordo com Alicia Bárcena, secretária-executiva da organização, o comércio latino-americano já registrava contração em 2019, mas a pandemia acentuou o problema.
Os mais atingidos foram Venezuela, que vive gravíssima crise econômica, e Cuba, embargada pelos EUA há décadas, com -65% e -30%, respectivamente. O Peru viu seu volume de exportações reduzir em 25%, e o Brasil, em 7%.
Apenas quatro países sul-americanos tiveram aumento nesse setor, embora pequeno: Costa Rica, Guatemala, Honduras e Nicarágua, este último com 14%, o maior crescimento.
“Isso se explica pela combinação de vendas mais altas de suprimentos médicos e equipamentos de proteção individual, sobretudo máscaras”, explicou Bárcena. “Os produtos agrícolas não tiveram demanda tão afetada pela pandemia, o que mostra uma relativa resiliência do comércio interno.”
Os produtos agrícolas tiveram um tímido crescimento nas exportações, de 0,9%. Já commodities como o petróleo e gás natural, cujos preços despencaram desde o início da pandemia, enfrentam queda após forte queda na demanda por combustíveis.
Importação e comércio interregional
Embora o comércio já apresentasse desaceleração em 2019, houve uma acentuação severa dessa tendência entre janeiro e maio deste ano.
Na América Latina, a queda acumulada no comércio é de 27%, 10 pontos percentuais acima da média global.
Nas importações, os resultados também desapontam. Com redução de 25%, esse é o pior desempenho em 40 anos nas importações latino-americanas.
Novamente, Venezuela e Cuba são os mais afetados, com 45% e 41%, respectivamente. A Bolívia aparece em seguida, com redução de 38% nos produtos vindos de fora.
A queda no comércio interregional também preocupa. Em relação a 2019, as trocas comerciais dentro do Mercosul caíram dois pontos porcentuais – de 11% para 9%.
O colapso atinge com mais força as manufaturas. Têxteis, confecções e calçados tiveram seu comércio reduzido em 35% e, enquanto veículos registraram queda de 55%.
Setor aéreo
Quase todo o tráfego aéreo desapareceu: 99% dos voos deixaram de circular entre janeiro e maio. O transporte aéreo de cargas também teve queda da ordem de 62%.
A não circulação de passageiros causou um forte desfalque no setor de turismo, em especial no Caribe. No período, o volume de viagens caiu pela metade. “É muito preocupante, pois os países caribenhos dependem quase que só do turismo”, ressaltou Bárcena.
Com o impacto no PIB (Produto Interno Bruto), a população sente os efeitos: o Caribe teve uma redução de 8% no PIB, e a taxa de empregabilidade da região caiu em -9%.
Para amortecer a derrubada, a Cepal sugere ações que permitam reduzir custos internos de logística, além da geração de serviços com maior valor agregado. “Medidas drásticas são mais que essenciais agora”, disse a representante do órgão das Nações Unidas.