Alvo da repressão do Taleban, minorias religiosas são forçadas a fugir do Afeganistão

Afegãos que seguem as religiões sikh e hindu são obrigados a esconder sua fé, tendo inclusive que se vestir como muçulmanos

No Afeganistão sob o regime do Taleban, as minorias religiosas têm cada vez menos espaço. Proibidos de manifestar sua fé e inclusive forçados a se vestir e a se comportar como muçulmanos, muitos seguidores de religiões diferentes do Islamismo têm optado por fugir, deixando para trás o país onde sempre viveram. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

Sikhs e hindus estão entre os principais alvos da repressão religiosa. Eles não podem celebrar suas datas sagradas em público e dizem que precisam se vestir como muçulmanos.

Sob o Taleban, trajes típicos muçulmanos são obrigatórios para os afegãos (Foto: wallpaperflare.com)

A perseguição às minorias religiosas é anterior ao governo talibã. Havia cerca de cem mil seguidores das duas religiões no país na década de 1980, mas a guerra contra a União Soviética e a perseguição que se sucedeu ao conflito forçou muitos a irem embora.

O Taleban chegou a prometer que protegeria as minorias religiosas durante a década de 1990, quando lutava para tomar o poder pela primeira vez. Quando assumiu, em 1996, governando até 2001, o que se viu foi o contrário, com muitos sikhs e hindus deixando o país após perderam suas propriedades, sendo ainda obrigados a pagar um imposto especial.

A violência também faz parte da rotina das minorias, e atentados são frequentes. Em um deles, em 2020, o Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), hoje principal inimigo do próprio Taleban no Afeganistão, atacou um templo sikh e matou 25 pessoas. O grupo também foi responsável pela morte de ‘Hakeem’ Sardar Satnam Sing, famoso médico sikh assassinado na cidade de Peshawar, no Paquistão, em outubro de 2021.

Quando o Taleban se preparava para voltar ao controle do país, há dois anos, voltou a prometer um tratamento respeitoso às minorias. Mais uma vez mentiu, como mentiu ao prometer que respeitaria os direitos das mulheres, hoje as principais vítimas da repressão.

Atualmente, o preconceito contra as minorias parte do próprio governo. “Não celebramos os nossos principais festivais desde que os talibãs regressaram ao poder”, disse Fari Kaur, seguidora da religião sikh cujo pai morreu em um ataque suicida em 2018. “Temos muito poucos membros da comunidade que ficaram para trás no Afeganistão. Não podemos nem cuidar dos nossos templos.”

A Índia é o destino preferido dos afegãos que resolvem deixar o país devido à perseguição religiosa. “Abandonamos o nosso país por extremo desespero”, disse Chabul Singh, um homem sikh de 57 anos que fugiu com a mulher e dois filhos e hoje mora em Nova Délhi.

“No Afeganistão, os nossos turbantes distintivos nos denunciavam e éramos mortos tanto pelo Taleban como pelo Daesh”, afirmou Singh, citando a abreviatura em árabe para se referir ao Estado Islâmico.

Segundo ele, é como se não tivessem uma pátria, devido ao preconceito que enfrentam dos dois lados da fronteira. “No Afeganistão nos perguntavam por que havíamos deixado a Índia. Aqui na Índia nos perguntam por que deixamos o Afeganistão.”

De acordo com Niala Mohammad, diretora de política e estratégia do Conselho Muçulmano de Assuntos Públicos, uma ONG de Washington, não são apenas os sikhs e hindus que sofrem com o Taleban no poder. Todas as minorias religiosas são perseguidas, como bahais, cristãos e ahmadis.

“A situação continua a se deteriorar à medida que facções políticas extremistas que afirmam representar o Islã, como o Taleban, chegam ao poder na região”, disse ela. “Este êxodo de diversos grupos religiosos deixou um vazio no tecido social do país.”

A dura repressão imposta pelo Taleban é a justificativa usada por muitos países para não reconhecerem o Taleban como governo afegão de direito. Ocorre que esta é uma necessidade urgente, pois fortaleceria financeiramente um país pobre e sem perspectiva imediata de gerar riqueza.

O Afeganistão tem bilhões de dólares em fundos congelados em bancos dos EUA, da Europa e do Oriente Médio, dinheiro crucial para um eventual projeto de recuperação econômica. A verba não será liberada a não ser que o Taleban mostre alguma flexibilização.

Enquanto o reconhecimento não vem, o país continua marginalizado da comunidade internacional, que rejeita políticas violentas e autoritárias, como o açoitamento e amputações de membros como punição por crimes e sobretudo a dura repressão imposta às mulheres, impedidas de trabalhar, de estudar e de se integrar efetivamente à sociedade afegã.

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