Conselho de Segurança expressa preocupação com restrições às mulheres no Afeganistão

Órgão destaca “impacto significativo e imediato" para as operações humanitárias, como a entrega de alimentos e saúde

O Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) divulgou na terça-feira (27) um comunicado afirmando que seus 15 membros estão “profundamente alarmados” com as últimas restrições do Taleban à educação de mulheres e meninas no Afeganistão.

Os embaixadores também expressaram profunda preocupação com o fato de funcionárias de ONGs e organizações internacionais serem banidas de seu trabalho.

O Conselho destacou que a medida teria “um impacto significativo e imediato para as operações humanitárias no país, incluindo as da ONU, e a entrega de ajuda e trabalho de saúde”.

Para o órgão, as restrições “contradizem os compromissos assumidos pelos talibãs perante a povo afegão, bem como as expectativas da comunidade internacional”.

O Conselho de Segurança reiterou seu total apoio à Missão de Assistência da ONU no país (Unama) e à representante especial Roza Isakovna Otunbayeva, ressaltando a importância de que ela desempenhe seu mandato, inclusive por meio do monitoramento e relatórios sobre a situação, e continue a se envolver com os atores políticos afegãos relevantes e partes interessadas.

Situação humanitária

O Escritório da ONU para Assuntos Humanitários (Ocha) destacou fatos sobre a situação no país. Segundo a agência, o Afeganistão já enfrenta uma das maiores e mais severas crises humanitárias.

Um recorde de 28,3 milhões de pessoas, ou cerca de dois terços da população, deve precisar de assistência humanitária e de proteção em 2023. Em 2021, eram 18,4 milhões. O número saltou para 24,4 milhões de pessoas neste ano e deve seguir aumentando.

Cerca de 20 milhões de pessoas devem enfrentar fome aguda até o final de março de 2023, e quatro milhões de crianças e mulheres enfrentam desnutrição aguda.

Meninas sofrem coma s restrições à educação no Afeganistão (Foto: Sayed Bidel/Unicef)
Fome e financiamento

Os níveis de gravidade da fome e desnutrição permanecem sem precedentes no Afeganistão, com sei milhões de pessoas em risco fome – um dos números mais altos do mundo em termos absolutos.

Segundo o Ocha, com ajuda contínuas e significativas, os parceiros humanitários podem agir para salvar vidas e evitar o agravamento da situação para milhões de pessoas. O mundo não deve esperar que a fome seja declarada antes de agir.

A deterioração da economia causou quedas acentuadas na renda, aumento da dívida e alto desemprego. Devido a um forte aumento nos preços das commodities, as pessoas agora gastam 71% de sua renda em alimentos.

Economia e mulheres

Isso significa que eles têm menos para gastar em outras necessidades básicas, mas essenciais, como educação e saúde. Para melhorar os meios de subsistência das famílias, aumentar as oportunidades econômicas e preservar os serviços básicos, é vital restaurar os sistemas financeiros e comerciais e aumentar a assistência internacional ao desenvolvimento.

Além disso, o Afeganistão é agora o pior país para ser mulher. Nos últimos 16 meses, a situação dos direitos humanos piorou consideravelmente, especialmente para mulheres e meninas.

As autoridades implementaram duras restrições severas à capacidade de mulheres e meninas de participar da vida social, econômica e política e que limitam seu acesso à assistência e serviços essenciais. Isso aumenta ainda mais suas necessidades, vulnerabilidades e riscos de proteção.

Misoginia implacável

A ONU Mulheres também reagiu às novas restrições. A diretora executiva da agência condenou as medidas e afirmou ser uma violação dos direitos humanos.

Para Sima Bahous, além de mais uma violação flagrante dos direitos das mulheres e dos princípios humanitários pelo governo de facto, as restrições são um ato de “misoginia implacável, um ataque virulento às mulheres, suas contribuições, suas liberdades e suas vozes”.

Ela adicionou que ao impedir que as mulheres contribuam para os esforços das organizações humanitárias, os talibãs suspenderam efetivamente a ajuda a metade da população afegã.

Sima Bahous lembra que 11,6 milhões de mulheres e meninas não recebem mais assistência e que as famílias chefiadas por mulheres, que representam quase um quarto das famílias no Afeganistão, não têm para onde ir e nem meios de subsistência.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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