Cerca de 21,6 milhões de pessoas no Iêmen, o que equivale a dois terços da população o país, precisarão de algum tipo de assistência humanitária e serviços de proteção durante o ano de 2023, de acordo com o plano de Resposta Humanitária da ONU (Organização das Nações Unidas) publicado na quarta-feira (25).
O escritório de assuntos humanitários da ONU (OCHA) está pedindo US$ 4,3 bilhões para alcançar os 17,3 milhões de pessoas necessitadas mais vulneráveis, cujas vidas foram viradas de cabeça para baixo por causa da guerra prolongada, deslocamento e colapso econômico, agravados por desastres naturais recorrentes.
A guerra civil do Iêmen começou em 2014, quando os rebeldes houthis tomaram a capital, Sanaa, forçando o governo a sair e levando ao estabelecimento de uma coalizão liderada pela Arábia Saudita em apoio ao governo, que por sua vez lançou ataques aéreos contra os rebeldes no início de 2015.
O número total projetado de necessitados neste ano diminuiu ligeiramente de 23,4 milhões de pessoas em 2022 para 21,6 milhões em 2023, enquanto a “meta interssetorial geral” caiu de 17,9 milhões para 17,3 milhões de pessoas.
Essas mudanças devem-se principalmente a modificações técnicas nas chamadas “avaliações de necessidades em nível de cluster” e projeções revisadas de segurança alimentar divulgadas em outubro passado. “Não traduzem uma melhoria generalizada do panorama humanitário ”, sublinha o plano de resposta, dizendo ainda que os ganhos registados em 2022 “permanecem extremamente frágeis” .
Principais objetivos
A resposta humanitária no Iêmen apoiará muitos que enfrentam múltiplos desafios, incluindo deslocados internos e aqueles que tentam retornar, bem como pessoas com deficiências, migrantes e refugiados
A abordagem de resposta será organizada em torno de três objetivos estratégicos, de acordo com o plano: primeiro, promover atividades que salvam vidas; segundo, resiliência contribuindo para soluções duráveis, e, finalmente, o princípio fundamental de fornecer proteção.
“A estratégia de resposta em 2023 visa a atender níveis imediatos e significativos de necessidades, fornecendo assistência humanitária urgente para salvar vidas a 14 milhões de pessoas, apenas sob o primeiro objetivo estratégico”, disse o OCHA.
Ao mesmo tempo, reconhece a importância de trabalhar em estreita colaboração com os parceiros de desenvolvimento para evitar um colapso mais amplo dos serviços básicos.
O plano exige que os setores humanitário, de desenvolvimento e construção da paz se envolvam em ações coordenadas sob o guarda-chuva estratégico do recém-criado Grupo de Parceiros do Iêmen (YPG, na sigla em inglês) e sua estrutura operacional, a Equipe Técnica de Parceiros do Iêmen (YPTT, na sigla em inglês).
Um foco maior na proteção está no centro da resposta , disse o OCHA, com o objetivo de garantir liderança, coordenação e engajamento coletivo fortalecidos na redução dos riscos de proteção e no aumento da capacidade de enfrentamento das populações afetadas.
“A resposta colocará ainda mais as pessoas no centro, com base no progresso feito no envolvimento da comunidade e na prestação de contas às pessoas afetadas, implementando novos mecanismos de feedback coletivo e lançando pesquisas de percepção da comunidade”, diz o plano.
O Iêmen não está mais em estado de guerra em grande escala, mas também não se beneficia de uma paz formal, aponta o documento. Durante a trégua que durou de 2 de abril a 2 de outubro em todo o país, momento que caducou devido à falta de consenso, o deslocamento relacionado ao conflito diminuiu 76%.
Ao mesmo tempo, no entanto, as vítimas de minas terrestres e resíduos explosivos de guerra, incluindo munições não detonadas, aumentaram 160%.
Custos continuam subindo
O documento afirma que “os serviços essenciais e a economia continuaram a se deteriorar-se. O custo da cesta mínima de despesas domésticas aumentou mais de 50% no espaço de um único ano”
Sem um acordo político abrangente, o deslocamento contínuo, a situação econômica e a falta de infraestrutura provavelmente continuarão sendo os principais impulsionadores das necessidades, observa o plano. Estima-se que 4,5 milhões de pessoas, ou 14% da população, estejam atualmente deslocadas , a maioria das quais já foi deslocada várias vezes.
Desastres naturais e eventos induzidos pelo clima, como secas e inundações, são os principais fatores de deslocamento e aumentam a crise humanitária. Ao longo de 2023, as necessidades humanitárias provavelmente se manterão estáveis, e a resiliência das populações vulneráveis provavelmente diminuirá.
Estima-se que 5,4 milhões de pessoas necessitadas em todo o Iêmen são afetadas por restrições de acesso, disse o OCHA, a “grande maioria” das quais está relacionada a impedimentos burocráticos , que incluem principalmente negações de movimento e atrasos nas autorizações de viagem.
Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News