Após a queda do presidente Bashar al-Assad, insurgentes sírios anunciaram que não irão impor um código religioso de vestimenta às mulheres. Em declaração publicada nas redes sociais, o comando-geral das forças insurgentes negou que pretenda adotar restrições semelhantes às que o Taleban impôs após ascender ao poder no Afeganistão. As informações são do jornal The Times of Israel.
A promessa de respeito às liberdades pessoais foi reforçada pelo compromisso de construir uma nação baseada nos direitos individuais. “A liberdade pessoal é garantida a todos, e o respeito pelos direitos dos indivíduos é a base para a construção de uma nação civilizada”, diz o comando em seu comunicado. “É estritamente proibido interferir na vestimenta das mulheres ou impor qualquer exigência relacionada ao seu vestuário ou aparência, incluindo pedidos de modéstia.”
A postura marca uma tentativa de distanciamento da imagem de radicalismo religioso associada a alguns grupos armados no Oriente Médio. Abu Mohammed al-Golani, líder militante cuja força tomou Damasco no último fim de semana, renunciou a antigas alianças com a Al-Qaeda, apresentando-se como um defensor do pluralismo e da tolerância.
Nas áreas anteriormente controladas pela oposição síria desde o início da guerra civil em 2011, a maioria das mulheres já seguia padrões de vestimenta modestos, cobrindo os cabelos e revelando apenas o rosto e as mãos. A garantia de liberdade em relação à vestimenta, portanto, pode ser vista como um esforço para sinalizar um novo tipo de governança e conquistar a confiança da população.
Paralelos entre a Síria e o Afeganistão
O cenário sírio traz inevitáveis comparações com o Afeganistão, onde o Taleban retomou o poder em 2021. Embora também tenha prometido respeitar os direitos das mulheres no início de sua gestão, o grupo rapidamente reverteu sua posição.
As restrições impostas pelos radicais às afegãs afegãos incluem a proibição de estudar, trabalhar e sair de casa sem a presença de um homem. Isso resulta na perda de emprego para muitas mulheres, contribuindo para o empobrecimento da população.
A situação tornou-se ainda mais difícil após a imposição de um pacote de regras anunciado em agosto, que proíbe uma série de atividades, incluindo o uso de transporte público, a execução de música e a realização de celebrações.
Entre as rígidas regras impostas, o artigo 13 exige que as mulheres cubram todo o corpo, incluindo o rosto, em público para evitar “tentação”. Elas não podem usar roupas que sejam transparentes, apertadas ou curtas. Além disso, devem se cobrir completamente, mesmo na frente de pessoas que não sejam muçulmanas, para prevenir “corrupção”.
As novas leis consideram até a voz da mulher algo “íntimo demais” para ser ouvido em espaços públicos, o que na prática as proíbe de cantar, declamar ou ler em voz alta. Elas também estão proibidas de olhar para homens que não sejam seus familiares próximos, assim como os homens não podem olhar para mulheres que não sejam suas parentes.