Irã proíbe a família de Mahsa Amini de viajar à Europa para receber o Prêmio Sakharov

Pai, mãe e irmão da jovem, morta pela polícia da moralidade em setembro de 2022, foram parados no aeroporto e tiveram seus passaportes confiscados

O governo do Irã impediu familiares de Mahsa Amini, morta em setembro de 2022 pela polícia da moralidade do país, de viajar à Europa para receber o Prêmio Sakharov concedido anualmente pelo Parlamento Europeu (PE). As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

O pai, a mãe e o irmão de Mahsa já estavam no aeroporto para embarcar rumo ao continente europeu quando foram informados de que não poderiam deixar o Irã. Segundo uma fonte com conhecimento do caso e que pediu anonimato, eles ainda tiveram seus passaportes confiscados pelas autoridades.

Apesar do veto aos familiares, o advogado da família, Saleh Nikbakht, que também participaria da viagem, foi autorizado a embarcar e receber o prêmio em nome da jovem.

O nome do prêmio remete a um dissidente político soviético, o físico Andrei Sakharov. No panteão dos vencedores, a jovem iraniana faz companhia a figuras que inclusive receberam o Nobel da Paz, casos do sul-africano Nelson Mandela, da paquistanesa Malala Yousafzai, do congolês Denis Mukwege e da iraquiana Nadia Murad.

Mahsa Amini, jovem morta no Irã (Foto: reprodução/Twitter)

De acordo com o PE, a premiação é a “mais elevada homenagem prestada pela União Europeia (UE) ao trabalho no domínio dos direitos humanos.” O objetivo é reconhecer “indivíduos, grupos e organizações que deram uma contribuição notável para proteger a liberdade de pensamento.” O vencedor é gratificado com 50 mil euros, e a cerimônia ocorre em Estrasburgo, na França.

Este não é o primeiro episódio de repressão envolvendo o governo e familiares de Mahsa. Em maio deste ano, parentes acusaram a agentes estatais de vandalizar o túmulo dela. O advogado da família também esteve na mira das autoridades e foi formalmente acusado do crime de “propaganda contra o sistema” por comentar a morte da jovem em entrevistas à imprensa.

Por que isso importa?

Mahsa Amini, de 22 anos, visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela polícia da moralidade por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois.

Familiares alegam que a jovem foi violentamente agredida sob poder das autoridades. O governo, por sua vez, alega que ela sofreu um ataque cardíaco.

A morte dela, em 16 de setembro de 2022, desencadeou protestos em todo o país. As manifestações começaram no Curdistão, província onde vivia a jovem, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da República Islâmica.

As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de centenas de mortes nas mãos da polícia e inúmeros casos de execuções judiciais abusivas, aplicadas contra manifestantes julgados às pressas.

Mais recentemente, Armita Garavand, uma adolescente de 17 anos, morreu em circunstâncias idênticas no Irã. Testemunhas também acusam a polícia da moralidade de agredi-la, incidente ocorrido no metrô de Teerã e igualmente relacionado ao uso do Hijab.

Como no caso de Mahsa, Armita foi internada, entrou em coma e morreu dias depois. O regime também nega responsabilidade pela morte e afirma que a adolescente sofreu uma queda de pressão, caiu de forma repentina e bateu a cabeça.

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