Paquistão insta Taleban a agir contra grupos terroristas e realiza ataque no Afeganistão

Governo paquistanês acusa o Afeganistão de dar abrigo aos extremistas. Bombardeio no sábado aumenta a tensão na região

O aumento da violência em seu território levou o governo do Paquistão a cobrar uma postura enérgica do Taleban contra as organizações extremistas islâmicas provenientes do Afeganistão, que têm realizado seguidos atos terroristas no país vizinho. As informações são da rede Gandhara.

“O Paquistão, mais uma vez, condena fortemente os terroristas que operam impunemente em solo afegão para realizar atividades no Paquistão”, disse um comunicado emitido pelo Ministério das Relações Exteriores de Islamabad.

Membros das forças de segurança paquistanesas têm sido o principal alvo de jihadistas que se instalaram no Afeganistão e cruzam a fronteira para realizar ataques na nação vizinha. O maior responsável pelos atos tem sido o Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão.

No início da semana passada o TTP assumiu a autoria de um atentado com um foguete que atingiu uma van e matou cinco policiais no noroeste do Paquistão. No final de março, três soldados paquistaneses foram mortos num confronto com extremistas da mesma facção, também no noroeste do país.

Soldado do exército do Paquistão, foto de novembro de 2018 (Foto: Wikimedia Commons)

Afeganistão bombardeado

A tensão entre Islamabad e o Taleban aumentou consideravelmente no sábado (16), quando os governantes afegãos acusaram o governo paquistanês de realizar ataques aéreos nas províncias de Khost e Kunar, no Afeganistão.

De acordo com Cabul, 48 pessoas morreram na operação militar paquistanesa. “Vinte e quatro pessoas foram mortas em uma única família”, disse um funcionário do Ministério da Promoção da Virtude e Prevenção do Vício do Taleban.

Os números do governo afegão, que carecem de verificação independente, falam que os civis são maioria entre as vítimas fatais, segundo o site The Defense Post. “Quarenta e um civis, principalmente mulheres e crianças, foram mortos, e outros 22 ficaram feridos em ataques aéreos das forças paquistanesas perto da linha Durand, na província de Khost”, disse Shabir Ahmad Osmani, diretor provincial de informação e cultura.

O canal de notícias afegão Tolo News exibiu imagens de corpos de crianças que teriam sido mortas na ação do exército paquistanês. Também foram exibidas cenas de protestos realizados por centenas de moradores, condenando o ataque e gritando frase de ordem contra o Paquistão.

Por que isso importa?

Embora sigam os mesmos preceitos fundamentalistas e sejam ambos grupos sunitas, o Taleban afegão e o homônimo paquistanês são entidades separadas. Porém, o governo do Paquistão chegou a aproveitar a proximidade com os talibãs do Afeganistão para iniciar negociações com o TTP, e um acordo de cessar-fogo foi firmado no ano passado.

A trégua, porém, foi interrompida no dia 10 de dezembro de 2021, exatamente um mês após ter sido iniciada. Os extremistas do TTP acusaram Islamabad de não cumprir as promessas feitas antes do acordo, entre elas a libertação de prisioneiros e a formação de um comitê de negociações.

À época em que o cessar-fogo foi estabelecido, o ministro da Informação paquistanês, Fawad Chaudhry, confirmou a influência do Taleban do Afeganistão para que o acerto fosse possível, embora os grupos homônimos não tenham qualquer tipo de associação oficial.

A proximidade entre Islamabad e o Taleban sempre incomodou o Ocidente. Depois que os radicais conquistaram Cabul, consequentemente assumindo o governo do Afeganistão, o então premiê paquistanês Imran Khan declarou que o grupo estava “quebrando as correntes da escravidão”, em vídeo reproduzido pelo jornal britânico The Independent.

Ultimamente, porém, as relações entre os países vizinhos andam estremecidas, devido às acusações do governo do Paquistão de que o Taleban afegão dá abrigo ao TTP no Afeganistão. Outra facção que passou a atuar em território paquistanês é o Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), este inimigo declarado do Taleban.

Em meio às desavenças entre Islamabad e Cabul, o porta-voz do Taleban, Zabihullah Mujahid, alertou sobre as “más consequências” de novos ataques paquistaneses em solo afegão. “O lado paquistanês deve saber que, se uma guerra começar, não será do interesse de nenhum lado”, disse ele.

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