Milhares de crianças sofreram violações graves no Afeganistão, a maioria pelo Taleban

Segundo relatório da ONU, menores são vítimas de recrutamento, violência sexual, mutilação, negação de ajuda humanitária e assassinato

Entre janeiro de 2021 e dezembro de 2022, 4.519 violações graves contra crianças foram verificadas no Afeganistão, sendo que a maioria dos abusos foi cometida por membros do Taleban. Os números constam de um relatório divulgado no final da semana passada pela ONU (Organização das Nações Unidas).

De acordo com o documento, 3.545 menores estão entre as vítimas, ou seja, alguns sofreram mais de uma violação. Entre os abusos citados estão o recrutamento para o combate, mutilações, violência sexual, sequestro, ataques a escolas e hospitais, negação de acesso a ajuda humanitária e assassinato.

No caso das meninas, a ONU destaca o veto imposto pelo Taleban à educação, com milhões de afegãs impedidas de frequentar a escola secundária.

Mais de 3,5 mil crianças afegã foram vítimas de violência, segundo a ONU (Foto: WikiCommons)

“Isto, combinado com normas sociais e práticas tradicionais prejudiciais, expôs muitas meninas a formas extremas de violência e comportamento abusivo, como crimes de honra, casamento infantil, violência doméstica e violência sexual”, disse Virginia Gamba, representante especial do secretário-geral da ONU para crianças e conflitos armados.

Mais recentemente, a situação de muitos jovens tornou-se particularmente delicada porque países como Paquistão, Irã e Turquia determinaram a expulsão de cidadãos afegãos com documentação irregular, um problema igualmente citado no relatório. Ou seja, muitos daqueles que eventualmente tenham deixado o país para escapar do Taleban terão que retornar ou já retornaram.

Os crimes contra crianças

Assassinatos e mutilações são os abusos mais frequentes citados no relatório, seguidos pela negação de acesso a ajuda humanitária, que cresceu acentuadamente durante o período analisado. O problema foi agravado por um decreto do Taleban que proíbe as afegãs de trabalharem para ONGs nacionais e internacionais, inclusive para as próprias Nações Unidas.

A justificativa dos talibãs para o veto ao trabalho feminino em entidades humanitárias foi a de que muitas dessas trabalhadoras não estava fazendo uso do hijab, o véu que faz parte do conjunto de vestimentas recomendado pela doutrina islâmica. 

Em resposta à restrição, muitas ONGs paralisaram as atividades, alegando precisar de trabalhadoras para levar os serviços às mulheres no país. A paralização parcial no serviço de apoio aos afegãos impactou na distribuição de comida, nos serviços de saúde e na educação, atingindo duramente as crianças.

Outro fator que ajuda a inflar os números de menores vítimas de violência são as minas terrestres, explosivos escondidos que têm os pequenos afegãos como vítimas habituais.

“Tais artefatos explosivos perigosos são onipresentes no Afeganistão. As vítimas continuam a ter dificuldade em acessar ajuda médica, financeira e psicossocial vital após esse tipo de incidente. O apoio global é essencial para a rápida remoção de ameaças explosivas, e a educação sobre o risco de munições explosivas deve ser intensificada”, disse a representante especial.

De acordo com o relatório, desde que ascendeu ao poder, em agosto de 2021, o Taleban adotou medidas limitadas para tentar reduzir os abusos contra crianças. “As disposições de proteção às crianças ainda são escassas na agenda das autoridades de fato”, afirma a ONU.

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