Minoria xiita é novamente alvo de ataque do Estado Islâmico no Afeganistão

Explosão atingiu micro-ônibus e matou ao menos cinco pessoas da minoria étnica dos hazara, alvo de perseguição do grupo extremista

O Estado Islâmico-Khorasan (EI-K) voltou a atacar a minoria étnica dos hazara no Afeganistão no último sábado (6). De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), há ao menos 25 pessoas entre os mortos e feridos, após a explosão de uma bomba em um micro-ônibus no bairro de Dashti Barhi, em Cabul.

“Pelo menos 25 membros da comunidade hazara de Cabul foram mortos ou feridos na explosão da noite passada em Dasht Barchi. A Unama apela pelo fim dos ataques direcionados contra civis, maior proteção para a comunidade hazara no Afeganistão e responsabilização dos perpetradores”, disse através da rede social X a Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão (Unama).

Embora a ONU tenha divulgado o número total de vítimas, não está claro quantas delas morreram. A rede Radio Free Europe (RFE) diz que os relatos provenientes do Afeganistão são desencontrados e variam desde cinco até 16 vítimas fatais. A rede Voice of America (VOA) informou número semelhante: ao menos cinco vítimas fatais.

Ao assumir a autoria, no domingo (8), o EI-K confirmou que a bomba foi posicionada dentro do veículo, que conduzia sobretudo pessoas da minoria étnica pelo bairro de Dasht Barchi, tradicional reduto da comunidade xiita afegã.

O ataque é semelhante a outro ocorrido em novembro de 2023, quando uma bomba em um micro-ônibus matou sete pessoas na mesma área atacada no último sábado. Antes, Dashti Barchi havia sofrido atentados contra escolas, hospitais e mesquitas, somente no período em que o Taleban governa o Afeganistão.

Combatentes do EI-K capturados após ataque a hospital de Cabul (Foto: reprodução/Twitter)
A ineficácia do Taleban

Em setembro de 2022, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório no qual afirma que o Taleban, desde que assumiu o governo de fato do Afeganistão, em 15 de agosto de 2021, tem sido ineficiente em sua obrigação de proteger a população, particularmente algumas minorias xiitas.

O documento foca particularmente no caso dos hazara, que foram perseguidos pelos próprios talibãs durante a passagem anterior do grupo pelo poder, entre 1996 e 2001. Atualmente, embora tenham se aproximado dos radicais que governam o país, tornaram-se alvo frequente do EI-K.

Até o momento do relatório, a HRW havia registrado 13 ataques do EI-K contra os hazaras desde que o Taleban chegou ao governo. Setecentas pessoas haviam morrido ou ficado feridas nessas ações, números que incontestavelmente aumentaram desde setembro do ano passado.

O descaso com a minoria xiita contraria uma das muitas promessas feitas pelo Taleban quando chegou ao poder. “Como governo responsável, somos encarregados de proteger todos os cidadãos do Afeganistão, especialmente as minorias religiosas do país”, disse em outubro de 2021 o porta-voz do Ministério do Interior Saeed Khosty, numa promessa que não vem sendo cumprida.

Um ataque marcante atingiu a Escola Abdul Rahim Shahid de ensino médio, em Dashti Barchi, no dia 19 de abril de 2022. Entre alunos, professores e funcionários, 20 pessoas foram mortas ou feridas na ação do EI-K. Uma segunda explosão ainda foi relatada no mesmo dia no Centro Educacional Mumtaz, a alguns quilômetros de distância.

Além de cobrar uma mudança de postura do Taleban, a fim de melhor proteger as minorias atingidas pelo EI-K, o relatório reivindica uma ação global que pressione os governantes afegãos nesse sentido.

“Os governos envolvidos com o Taleban devem exigir uma melhor proteção das comunidades hazara e xiita e devem incentivar e apoiar mecanismos para fortalecer a responsabilidade por crimes cometidos no Afeganistão, inclusive contra as comunidades hazara e xiita”, diz a ONG.

Por que isso importa?

O EI-K não é novo no cenário afegão. O grupo extremista opera no país desde 2015 e surgiu na esteira da criação do Estado Islâmico (EI) do Iraque e da Síria. Foi formado originalmente por membros de grupos do Paquistão que migraram para o Afeganistão fugindo da crescente pressão das forças de segurança paquistanesas. Não há diferença substancial entre o EI e o EI-K, somente o local de origem, a região de Khorasan, originalmente no Irã.

Agora que a ocupação estrangeira no Afeganistão terminou e que o antigo governo foi deposto pelo Taleban, os principais alvos do EI-K têm sido a população civil e os próprios talibãs, tratados como apóstatas pelo Khorasan sob a acusação de que abandonaram a jihad por uma negociação diplomática.

Os ataques suicidas são a principal marca do EI-K, que habitualmente tem uma alta taxa de mortes por atentado. O mais violento de todos eles ocorreu durante a retirada de tropas dos Estados Unidos e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), quando as bombas do grupo mataram 182 pessoas na região do aeroporto de Cabul.

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