ONU se diz preocupada com cerco à Faixa de Gaza e impedimento de ajuda humanitária

António Guterres condenou ataques do Hamas contra Israel e afirmou que resposta israelense deve estar de acordo com direito humanitário

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, afirmou que está “profundamente angustiado” com o anúncio de que Israel iniciará um cerco completo à Faixa de Gaza, com total fechamento, sem eletricidade, alimentos ou combustível.

Falando a jornalistas em Nova York, ele condenou os ataques do Hamas de sábado (7) contra cidades israelenses. Com a resposta das forças de Israel, o chefe das Nações Unidas reforçou que as operações militares devem estar de acordo com o direito humanitário internacional.

Acesso à ajuda humanitária

António Guterres adicionou que a situação em Israel e na Palestina só pode ser resolvida por meio de uma paz negociada, “que satisfaça aspirações nacionais legítimas” das partes.

Ele lembra que a questão humanitária em Gaza já era extremamente terrível antes dos acontecimentos dos últimos dias e observa que com essa medida, a situação deve piorar ainda mais.

Assim, o líder das Nações Unidas fez um pedido às partes para permitirem da assistência humanitária urgente aos “civis palestinos presos e indefesos na Faixa de Gaza”. Ele ainda apelou à comunidade internacional por apoio humanitário imediato.

De acordo com os dados destacados pelo secretário-geral, os conflitos dos últimos dias já teriam deixado pelo menos 800 israelenses mortos e 2,5 mil feridos. Entre as vítimas em Gaza, os números indicam 500 mortos e três mil feridos.

Fim do “círculo vicioso”

Segundo Guterres, a ONU está em contato com os líderes da região para expressar preocupação, indignação e para avançar nos esforços para evitar que efeitos em demais regiões do Oriente Médio.

O secretário-geral das Nações Unidas ressalta que os novos episódios de violência “não surgem no vácuo”. Ele explica que este é um “conflito de longa data, com uma ocupação de 56 anos e sem nenhum fim político à vista”.

Para Guterres, “é hora de acabar com este círculo vicioso de derramamento de sangue, ódio e polarização”.

Ele defende que Israel possa ver as suas necessidades legítimas de segurança materializadas e que palestinos possam ter uma perspectiva clara para o estabelecimento do seu próprio Estado.

Secretário-geral da ONU, o português António Guterres (Foto: UN Photo/Evan Schneider)
Aumento da instabilidade e fluxo de refugiados

Antes, o alto comissário da ONU para refugiados, Filippo Grandi, alertou para as consequências da escalada de violência no Oriente Médio. Para ele, o conflito deve causar mais sofrimento aos civis e instabilidade.

Na avaliação de Grandi, o aumento das tensões é mais uma peça “perigosa num crescente mosaico de crises que, se não for abordado com coração, pode arruinar a paz mundial”.

O chefe da Agência da ONU para Refugiados (Acnur) destaca que a entidade está ativa na região e em todos os lugares em que guerras forcem as pessoas a deixarem suas casas. 

Ele ressalta que os conflitos são as principais causas de deslocamentos forçados, que alcançaram a marca sem precedentes de 110 milhões, o número mais elevado em décadas.

Deslocados e atuação da ONU

Com a continuação dos combates, mais de 120 mil pessoas foram deslocadas em Gaza, muitas das quais se refugiaram em escolas administradas pela agência da ONU para refugiados palestinos (Unrwa).

Quase 74 mil deslocados estão atualmente em 64 escolas da entidade, que estima que o número deve aumentar à medida que os bombardeios e ataques aéreos continuam, inclusive em áreas civis. 

De acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha), milhares de pessoas foram deslocadas dentro da Faixa de Gaza, “principalmente devido ao medo, preocupações de proteção e à destruição de suas casas”. 

Uma das necessidades prioritárias é a educação das crianças. De acordo com as Nações Unidas, todas as escolas na Cisjordânia e em Gaza estão fechadas, afetando mais de 1,4 milhão de crianças. 

Na área da saúde, os cortes de energia estão afetando os hospitais, que dependem de geradores de reserva. Alguns hospitais têm combustível suficiente para durar apenas quatro dias, de acordo com o Unrwa. 

Silêncio no Conselho de Direitos Humanos

O Conselho de Direitos Humanos da ONU cumpriu na manhã de segunda-feira (9) um momento de silêncio em homenagem às “vítimas inocentes” em Israel e Gaza, a pedido do representante dos Estados Unidos.

Em uma reunião da Agência da ONU para Refugiados em Genebra, Suíça, também foi observado silêncio pelas vítimas do terremoto no Afeganistão.

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