Taleban anuncia a morte de um comandante do Estado Islâmico-Khorasan

Grupo radical que governa o Afeganistão diz ainda que outro indivíduo ligado à fação terrorista foi capturado

O Taleban anunciou, na noite do último domingo (12), a morte de um comandante do Estado Islâmico-Khorasan (EI-K) e a captura de outro, em uma operação conduzida pelas forças de segurança do grupo radical que governa o Afeganistão desde agosto de 2021. As informações são da agência Khaama Press.

“Forças especiais e Mujahideen do Emirado Islâmico (forma como os talibãs de referem ao Afeganistão) lançaram uma operação em um esconderijo de Khawarij, distrito de Bagrami, cidade de Cabul, na noite de hoje. Um comandante insurgente chave, Yusuf, foi morto durante a operação, e outra figura chave, Mohammad Agha, foi capturado vivo”, disse no Twitter o porta-voz talibã Zabihullah Mujahid.

O anúncio de domingo é mais um indício de que o EI-K continua ativo no país, apesar de o Taleban frequentemente alegar que derrotou o grupo. No início deste mês, a facção afegã do Estado Islâmico (EI) havia sido responsável pela morte de três talibãs durante uma operação das forças de segurança afegãs.

Antes disso, no fim de maio, diversas explosões mataram 14 pessoas. Um dos ataques aconteceu dentro da mesquita Hazrat Zakaria, em Cabul, e matou cinco pessoas que ali estavam para fazer suas orações. As outras ações atingiram três mini vans na cidade de Mazar-e-Sharif, no norte do país, e deixaram nove mortos e 15 feridos.

Na ocasião, o EI-K usou seu canal online de notícias Aamaq para reivindicar os atos em Mazar-e-Sharif. Embora a organização terrorista não tenha assumido oficialmente a ação em Cabul, ela tem seu padrão.

Combatentes do Estado Islâmico-Khorasan no Afeganistão (Foto: reprodução de vídeo)
Por que isso importa?

Embora tenha ganhado notoriedade somente após o Taleban ascender ao poder, o EI-K não é novo no cenário afegão. O grupo extremista opera no Afeganistão desde 2015 e surgiu na esteira da criação do Estado Islâmico (EI) do Iraque e da Síria. Foi formado originalmente por membros de grupos do Paquistão que migraram para fugir da crescente pressão das forças de segurança paquistanesas.

Agora que a ocupação estrangeira no Afeganistão terminou e que o antigo governo foi deposto pelo Taleban, os principais alvos do EI-K têm sido a população civil e os próprios talibãs, tratados como apóstatas pelo Khorasan, sob a acusação de que abandonaram a jihad por uma negociação diplomática.

Os ataques suicidas são a principal marca do EI-K, que habitualmente tem uma alta taxa de mortes por atentado. O mais violento de todos eles ocorreu durante a retirada de tropas dos EUA e da Otan, quando as bombas do grupo mataram 182 pessoas na região do aeroporto de Cabul.

No início de outubro de 2021, dezenas de pessoas morreram em um ataque suicida a bomba contra uma mesquita na província de Kunduz, no nordeste do Afeganistão. Já em novembro, nova ação do EI-K, esta contra um hospital de Cabul, deixou 25 pessoas mortas e cerca de 50 feridas.

Não há diferença substancial entre EI e EI-K, somente o local de origem, a região de Khorasan, originalmente parte do Irã.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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