Táxis no Afeganistão agora exigem o uso da burca para aceitar passageiras

Motoristas enfrentam penalidades por transportar mulheres sem o hijab, enquanto as afegãs se recusam a obedecer, buscando defender seus direitos

Sob o governo do Taleban, as mulheres no Afeganistão não podem dirigir ou viajar sozinhas em táxis. E a repressão de gênero não para por aí: elas são obrigadas a estar acompanhadas por um homem e devem usar burca ao viajar de carro. As informações são da rede Deutsche Welle.

A organização extremista está impondo punições aos motoristas de táxi, riquixá e outros veículos de transporte de passageiros que transportam mulheres sem o hijab, o véu islâmico que cobre a cabeça, medida que torna insuficiente somente o uso de lenços. Como consequência, o número de afegãs viajando nas cidades está caindo vertiginosamente.

Desde a tomada do poder central há quase dois anos, o Ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício, principal órgão da repressão talibã, introduziu a polícia moral em grandes cidades, impondo regras rigorosas sobre o vestuário feminino.

Táxi em Cabul, capital afegã (Foto: WikiCommons)

Ouvido pela reportagem, Fereydun, um motorista de riquixá motorizado na cidade de Herat, no oeste do Afeganistão, contou que decidiu parar de transportar mulheres. Ele explicou que, se levasse afegãs que não estivessem usando uma cobertura de corpo inteiro, seria espancado pelas autoridades e seu meio de ganha-pão seria confiscado.

O taxista acrescentou que já foi testemunha de mulheres sendo humilhadas e que foi preso várias vezes. Também relatou que já presenciou os talibãs forçando mulheres que não estavam usando burcas a saírem do veículo, insultando-as e gritando com elas. Ele também foi punido em algumas dessas ocasiões.

No entanto, a definição precisa de um “hijab islâmico completo” permanece vaga, o que deixa mulheres como Dina, de Herat, vulneráveis a assédio e insultos por não usarem uma cobertura de corpo inteiro, mas sim um casaco comprido e lenço na cabeça.

Segundo Maryam Marof Arwin, fundadora de uma organização de bem-estar para mulheres e crianças no Afeganistão, as recentes restrições impostas pelo Taleban têm o objetivo de expulsar completamente as mulheres dos espaços públicos, refletindo as políticas implementadas durante seu governo anterior, de 1996 a 2001. Naquela época, as mulheres eram obrigadas a usar burcas em público, precisavam ser acompanhadas por um homem ao sair de casa e não tinham acesso a médicos do sexo masculino.

Desde que os talibãs assumiram o poder, em agosto de 2021, as afegãs têm sido as principais vítimas da repressão. Elas não podem mais frequentar a escola a partir da sexta série do ensino médio, foram excluídas do ensino superior, perderam o direito de trabalhar em basicamente todos os setores da moribunda economia afegã, inclusive em organizações não governamentais (ONGs) e entidades humanitárias em geral, e em muitos casos não podem sequer ir à rua sem a companhia de um homem.

Recentemente, a proibição aos salões de beleza surgiu como um dos mais duros golpes contra as afegãs. Além de privá-las de mais uma fonte de renda, muitas vezes crucial para o sustento da família em meio à profunda crise que afeta o país, os estabelecimentos eram refúgios seguros para as mulheres, que ali podiam se reunir e socializar.

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