Forças especiais dos EUA treinam tropas de Taiwan em segredo há quase um ano

Intercâmbio militar contraria a China e pode agravar as já turbulentas relações entre os países, em meio a constantes incursões aéreas de Beijing na ilha

Soldados encarregados de operações especiais dos Estados Unidos estão treinando secretamente tropas de Taiwan há meses, num intercâmbio militar que contraria a China e pode agravar as já turbulentas relações entre os países. As informações são do portal The Defense Post.

Um destacamento de cerca de 20 membros das operações especiais e de forças militares convencionais dos EUA têm conduzido os treinamentos desde 2020, segundo um funcionário do Pentágono que fez a revelação em condição de anonimato, na quinta-feira (7).

O oficial também confirmou as informações divulgadas pelo jornal The Wall Street Journal de que as forças terrestres e marítimas taiwanesas passaram por um período de capacitação aplicado por 20 soldados norte-americanos “durante pelo menos um ano”, em meio às vertiginosas ameaças verbais de Beijing contra a ilha semiautônoma.

Soldados taiwaneses durante treinamento (Foto: Pxfuel/Divulgação)

O Ministério da Defesa de Taiwan não se pronunciou sobre o caso. Já o Pentágono, por meio de seu porta-voz, John Supple, disse que o apoio dos EUA às forças taiwanesas é proporcional às suas necessidades de defesa.

“Nosso apoio e relacionamento de defesa com Taiwan permanecem alinhados contra a atual ameaça representada pela República Popular da China”, disse Supple em um comunicado.

O primeiro-ministro de Taiwan, Su Tseng-chang, declarou que “uma causa justa sempre atrai muito apoio”. Ele prosseguiu: “Estamos fazendo todos os esforços para defender nossa soberania nacional e nosso povo, bem como manter a paz regional. Estamos fazendo tudo o que podemos e apreciamos países com ideias semelhantes trabalhando juntos”, disse ele.

Perigo real

A aproximação pode colocar em perigo o aliado insular dos EUA. Nos últimos dias, 149 aeronaves militares chinesas invadiram o espaço aéreo taiwanês, um gesto de intimidação que fez crescer a tensão que já estava instalada no Estreito de Taiwan.

Diante da iminente ameaça de ação militar chinesa, ministério da Defesa de Taiwan quer se armar e pediu em setembro aos legisladores US$ 17 bilhões como orçamento militar para 2022. O valor pagaria, entre outras coisas, novos mísseis de defesa aérea, quatro drones armados e munição para a crescente frota de novos caças F-16V.

Autoridade francesa chama Taiwan de “país”

A França também colaborou para aquecer as coisas em Taiwan. Durante visita à ilha na quinta-feira (7), o chefe de uma delegação francesa de senadores, Alain Richard, chamou o território de “país”, tratamento diplomático não oficial que causa profunda irritação em Beijing, informou a rede France24.

Ao receber uma medalha de honra do presidente Tsai Ing-wen, Richard, ex-ministro da Defesa, agradeceu o gesto e disse que a embaixada taiwanesa em Paris vem fazendo “um trabalho muito bom na representação de seu país”. A fala foi uma gafe diplomática, já que a França, como a maioria dos países, reconhece oficialmente que o governo autônomo de Taiwan faz parte do território da China.

Alain Richard é recebido em 2014 pelo ex-presidente de Taiwan, Ma Ying-jeou (Foto: Taiwan Presidential Office/Flickr)

A embaixada chinesa em Paris alertou em seu site oficial que a visita prejudicaria os interesses da China, as relações sino-francesas e “a imagem da França”.

O embaixador de Beijing escreveu uma carta a Richard em fevereiro, dizendo que a visita “violaria claramente o princípio de “Uma só China” e enviaria um sinal errado às forças pró-independência em Taiwan”.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Relações exteriores que tratem o território como uma nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio defendido de “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como território chinês.

Diante da aproximação do governo taiwanês com os Estados Unidos, a China endureceu sua retórica contra as reivindicações de independência da ilha autônoma no ano passado.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos países do mundo, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas da ilha, o que causa imenso desgosto a Beijing, que tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação.

Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan, e agora já invadem o espaço aéreo da ilha, deixando claro que a China não aceitará a independência do território “sem uma guerra”.

embate, porém, pode não terminar em confronto militar, e sim em um bloqueio total da ilha. É o que apontaram relatórios produzidos pelos EUA e por Taiwan em junho, de acordo com o site norte-americano Business Insider.

O documento, lançado pelo governo taiwanês no ano passado, pontua que Beijing não teria capacidade de lançar uma invasão em grande escala contra a ilha. “Uma invasão provavelmente sobrecarregaria as forças armadas chinesas”, concordou o relatório do Pentágono.

Caso ocorresse, a escalada militar criaria um “risco político e militar significativo” para Beijing. Ainda assim, ambos os documentos reconhecem que a China é capaz de bloquear Taiwan com cortes dos tráfegos aéreo e naval e das redes de informação. O bloqueio sufocaria a ilha, criando uma reação internacional semelhante àquela que seria causada por uma eventual ação militar.

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