Exército do Sudão acusa forças paramilitares de atacar avião de evacuação turco

Forças sudanesas acusam seu rival paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF) de abrir fogo contra aeronave turca antes de ela pousar no aeroporto de Wadi Seyidna, nos arredores de Cartum

As forças armadas do Sudão acusaram nesta sexta-feira (28) os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) de abrirem fogo contra um avião no aeroporto de Wadi Seyidna, perto de Cartum. A aeronave, que se preparava para pousar ao ser atingida, tinha como missão evacuar cidadãos turcos presos no país, que vive um conflito armado nas últimas semanas. As informações são da agência Reuters.

Em comunicado, o exército detalhou que um avião militar turco C-130 foi atingido pelas RSF ao se aproximar do aeroporto de Wadi Seidna. Os disparos causaram danos ao sistema de combustível e deixaram um dos tripulantes ferido. Apesar do ataque, o avião conseguiu pousar com segurança e os trabalhos de manutenção foram realizados, acrescentou a nota.

Os militares também alertaram aos combatentes das RSF para que não tentem obstruir os esforços de evacuação de outros países com o que classificaram como “comportamento perigoso”.

Apesar do ataque, avião militar turco conseguiu pousar em segurança (Foto: Twitter/Reprodução)

O Ministério da Defesa da Turquia confirmou que um avião de evacuação foi alvejado e disse que não houve feridos. As RSF negaram ter atacado a aeronave turca, e acusaram o exército de “espalhar mentiras”.

“Nossas forças permaneceram estritamente comprometidas com a trégua humanitária com a qual concordamos desde a meia-noite (horário local), e não é verdade que alvejamos qualquer aeronave no céu de Wadi Seyidna em Omdurman”, disse o exército paramilitar em um comunicado.

Um cessar-fogo de 72 horas entrou em vigor à meia-noite de terça-feira (25) e foi prorrogado por mais três dias para permitir que os estrangeiros deixem Cartum e seus arredores e permitir que os esforços de paz parem a luta, iniciada no dia 15 de abril.

De acordo com o Ministério da Saúde sudanês, pelo menos 460 pessoas foram mortas e mais de quatro mil ficaram feridas em confrontos entre o exército e seus rivais paramilitares desde o início do conflito.

Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), a escassez de alimentos, água, medicamentos e combustível continua a assolar o país, principalmente na capital e arredores. O acesso a comunicações e eletricidade é limitado em muitas partes do Sudão, tornando as operações de socorro “ainda mais difíceis”.

Por que isso importa?

O Sudão vive um violento conflito armado que coloca frente a frente dois generais que comandam o país africano desde o golpe de Estado de 2021: Abdel Fattah al-Burhan, chefe das forças armadas, e Mohamed Hamdan Daglo, apelidado de “Hemedti”, à frente das RSF, corpo paramilitar da violenta milícia Janjawid, que combateu os rebeldes de Darfur.

As tensões decorrem de divergências sobre como cem mil soldados da milícia paramilitar devem ser integrados ao exército e quem deve supervisionar esse processo. 

No dia 16 de abril, um domingo, explosões puderam ser ouvidas no centro da capital Cartum, mais precisamente no entorno do quartel-general militar do Sudão e do palácio presidencial, locais estratégicos reivindicados tanto por militares quanto pelas RSF.

O aeroporto internacional da capital, tomado pela milícia, foi bombardeado com civis dentro. Aeronaves foram destruídas, e caças da força aérea sudanesa e tanques foram usados contra os paramilitares.

Desde que o conflito se espalhou, primeiro pela capital, depois por outras regiões do país, as nações estrangeiras que tinham cidadãos e representantes diplomáticos no Sudão começaram um processo de evacuação, viabilizado por um frágil cessar-fogo que não foi totalmente respeitado pela partes.

Mais de 420 pessoas morreram somente nos primeiros dez dias de combates. Entre as vítimas estão ao menos quatro trabalhadores humanitários, de acordo com relatos da ONU, que levou o problema a seu Conselho de Segurança.

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