Blinken sugere envolvimento dos EUA no Sahel para contrapor a presença do Wagner Group

Secretário de Estado cita Washington como parceiro de segurança mais confiável para a África, em contraste com os mercenários

Durante visita à Nigéria, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, afirmou na terça-feira (23) que Washington é um parceiro de segurança mais adequado para a África do que o grupo de mercenários russo Wagner Group. Ele acusou a organização de explorar nações do Sahel, região africana atingida por golpes e conflitos. As informações são da agência Associated Press.

Em coletiva de imprensa, Blinken expressou o compromisso contínuo dos EUA em apoiar Abuja e outros parceiros regionais na estabilização do Sahel, uma vasta área ao sul do Saara que enfrenta ameaças de grupos extremistas e recentes golpes de Estado. O foco especial foi dado ao Níger, onde uma tomada de poder ameaça anos de apoio internacional.

A derrubada do presidente Mohamed Bazoum, reconhecido como um aliado fundamental nos esforços ocidentais para combater a insurgência islâmica da Al-Qaeda e do Estado Islâmico (EI) na região do Sahel, causou grande impacto em toda a África Ocidental e abriu espaço para o aumento da influência da Rússia na região.

Dois combatentes do Wagner Group, organização paramilitar privada aliada ao Kremlin (Foto: VK/reprodução)

Enquanto o Ocidente condenava o golpe na metade do ano passado, Evgeny Prigozhin, o falecido ex-chefe da organização paramilitar privada russa Wagner Group, que está operando no vizinho Mali, elogiou a tomada de poder e ofereceu os serviços de seus combatentes.

Ao passo em que o Níger enfrentava sanções de vizinhos, do Ocidente e da Europa, sua nova junta militar rompeu laços militares com nações europeias, buscando parceria de segurança com a Rússia. Burkina Faso e Mali, também com dois golpes cada desde 2020, seguiram medidas semelhantes.

O Wagner, ativo em partes da África, incluindo o Mali, foi uma das primeiras fontes de auxílio procuradas pelos líderes militares nigerinos pós-golpe. Nos países africanos onde a empresa militar privada atua, Blinken observou um agravamento dos problemas de insegurança, destacando a “exploração de pessoas e recursos” pelas mãos dos mercenários. Além disso, enfatizou a importância do apoio aos parceiros que buscam abordagens eficazes para combater a insegurança na região.

Luta pela democracia

Para Oge Onubogu, diretora do Programa África no think tank norte-americano Wilson Center, a visita de Blinken à África surgiu como uma oportunidade para fortalecer parcerias e instituições democráticas em um momento em que as questões relacionadas ao continente podem ter recebido menos destaque na administração Biden.

Além de apoiar esforços contra golpes recentes, há um chamado para abordar as causas fundamentais desses eventos, percebidos por alguns como uma “possibilidade de transição para algo mais positivo”, segundo Onubogu.

“Essa viagem apresenta uma oportunidade para os EUA terem discussões construtivas reais com atores da sociedade civil, think tanks na região e alguns atores governamentais sobre como adaptar os sistemas que temos atualmente para transicionar para algo que seja do melhor interesse dos cidadãos africanos”, afirmou.

Ouro africano nos cofres do Kremlin

Mesmo após a morte de seu líder, Evgeny Prigozhin, em uma misteriosa tragédia aérea em 23 de agosto, o Wagner Group continua sendo uma fonte de renda crucial para a Rússia, afogada nos gastos com a guerra da Ucrânia. E a África é crucial nesses esforços.

Segundo estudo assinado por cinco pesquisadores, entre eles a analista política Jessica Berlin, Moscou faturou, somente desde o início do conflito, US$ 2,5 bilhões com ouro de países africanos, parte dos acordos de segurança firmados entre essas nações e a organização paramilitar privada.

presença russa na África tem aumentado bastante e invariavelmente se escora nos pactos de segurança envolvendo o Wagner Group. A crescente influência do Kremlin em países africanos levou inclusive a uma ruptura dos governos locais com antigos parceiros ocidentais, sobretudo a França, cujos soldados foram expulsos de nações como o Mali e o Níger. Inclusive a ONU (Organização das Nações Unidas) teve suas missões de paz encerradas, abrindo assim espaço para a atuação dos mercenários.

Tags: