Burkina Faso viabiliza o envio de tropas ao Níger e aumenta a tensão na África

Projeto de lei permite o reforço militar ao país vizinho, ameaçado de invasão por um bloco de países liderado por Chade e Nigéria

A junta militar no poder em Burkina Faso anunciou na quinta-feira (31) que redigiu um projeto de lei que autoriza oficialmente o envio de suas forças armadas ao vizinho Níger, que passou por um golpe de Estado recentemente e teme ser invadido por tropas da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO). As informações são do site The Defense Post.

“O que afeta a segurança no Níger afeta fundamentalmente a segurança de Burkina Faso”, disse o ministro da Defesa Kassoum Coulibaly em comunicado.

O projeto de lei agora será enviado aos parlamentares para votação, o que tende a ser mera formalidade no regime militar burquinense, sob a liderança do capitão Ibrahim Traore.

Na semana passada, o Níger também agiu de forma a viabilizar o apoio dos aliados. O governo militar autorizou formalmente Burkina Faso e Mali, países que igualmente passaram recentemente por golpes de Estado, a enviarem suas tropas em apoio ao exército nigerino caso necessário.

A movimentação dos três países governados por juntas militares ocorre após a CEDEAO colocar suas tropas de prontidão para um eventual invasão ao Níger. O bloco ameaça agir caso a junta militar não restabelece o governo democrático do presidente deposto Mohamed Bazoum. Chade e da Nigéria já se posicionaram a favor da invasão.

Presidente interino de Burkina Faso, Ibrahim Traore (Foto: Alexei Danichev/kremlin.ru)

Embora CEDEAO e Níger digam que uma solução pacífica é a prioridade, a ação militar é uma alternativa real. O bloco argumenta que, se a tomada de poder no Níger for bem-sucedida, outras poderiam ocorrer na África, levando a uma sucessão de golpes de Estado que de certa forma já está em curso e se alastraria ainda mais. O Gabão, por exemplo, sofreu uma tomada de poder nesta semana.

Pesa contra a invasão a possibilidade de ela gerar um conflito de maior amplitude, com o envolvimento inclusive de superpotências. O primeiro país arrastado para a guerra poderia ser a Rússia, que através do Wagner Group é parceira de Mali e Burkina Faso, favoráveis ao golpe no Níger.

Em comunicado conjunto transmitido por emissoras estatais no início de agosto, malineses e burquinense alertaram que qualquer intervenção em território nigerino seria considerada “uma declaração de guerra” também contra esses dois países.

Por que isso importa?

Em 26 de julho, o Níger foi palco de um golpe de Estado, no qual o general Abdourahamane Tchiani, alegando “deterioração da situação de segurança” no país devastado pela ação de grupos jihadistas, se autodeclarou líder nacional dois dias depois após destituir o presidente democraticamente eleito Mohamed Bazoum. 

A ascensão ao poder de Bazoum, eleito no final de fevereiro de 2021, marcou uma transferência pacífica de poder histórica no Níger desde sua independência da França em 1960. Ele agora encontra-se sob custódia da guarda presidencial no palácio da presidência e pode ser julgado sob a acusação de “alta traição”.

O político é reconhecido como um aliado fundamental nos esforços ocidentais para combater a insurgência islâmica na região do Sahel, e Niamei é um dos principais beneficiários da ajuda externa.

Apesar dos apelos de diversos países e blocos regionais, clamando pela reinstauração do presidente deposto, Tchiani rejeitou tais chamados, argumentando que configuram “interferência nos assuntos internos do país”.

Um dos países mais pobres do mundo, conforme classificação da ONU (Organização das Nações Unidas), o Níger luta contra o alastramento do Boko Haram, ligado à Al-Qaeda, e do ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental), ambos da Nigéria, que já expandiram sua atuação para a nação vizinha.

Tags: