Exército da Nigéria anuncia destruição de reduto do ISWAP e morte de líder da facção do EI

Mallam Ari, um alto comandante do grupo jihadista, teria sido eliminado na ação, baseada em bombardeios da força aérea

O exército da Nigéria anunciou, através de sua conta no Twitter, a destruição de um importante reduto do ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental) no Estado de Borno, no nordeste do país, bem como a morte de cerca de 40 extremistas. A operação ocorreu na terça-feira (25).

“Tropas galantes da 401ª Brigada de Forças Especiais, em conjunto com a 19ª Brigada Baga, durante operações ofensivas de liberação entre Cross Kauwa e Gudumbali, no Estado de Borno, ontem, 25 de janeiro de 2022, neutralizaram terroristas e destruíram o suposto Califado do ISWAP”, diz o post, sem citar o número de mortos.

Na ação, os militares nigerianos teriam eliminado um alto comandante do grupo jihadista, Mallam Ari, de acordo com o site local Naija News. Ele e outros terroristas foram alvo de bombardeios aéreos realizados por jatos da força aérea da Nigéria (NAF), em operação batizada Hadin Kai.

Um alto oficial do exército relatou cerca de 40 terroristas mortos na operação. Segundo ele, os militantes estariam escondidos no vilarejo de Kirta Wulgo, onde fabricavam IEDs (dispositivos explosivos improvisados). O porta-voz da NAF, comodoro do ar Edward Gabkwet, confirmou o ataque, mas não citou o número ou as identidades dos mortos.

Exército da Nigéria anuncia destruição de reduto do ISWAP e morte de líder da facção ligada ao EI
Tropas do exército da Nigéria em ação contra o ISWAP, 25 de janeiro de 2022 (Foto: reprodução/Twitter)

Por que isso importa?

Afiliado ao EI, o ISWAP foi formado em 2016 por dissidentes do Boko Haram insatisfeitos com as decisões do ex-líder Abubakar Shekau. Atualmente, se concentra em alvos militares e ataques de alto perfil, inclusive contra trabalhadores humanitários. Os dois grupos jihadistas disputam o controle do estado de Borno, no nordeste da Nigéria. Chegaram a surgir relatos de uma aliança entre as duas organizações rivais, informação jamais confirmada oficialmente.

Desde 2021 o ISWAP adquiriu importância estratégica para o EI, que tem se enfraquecido financeira e militarmente nos últimos anos e, assim, aposta em sua força no continente africano para tentar ressurgir globalmente.

Em 2017, o Iraque anunciou ter derrotado a organização, com a retomada de todos os territórios que ela dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do país, hoje mantém células adormecidas que lançam ataques esporádicos. Já as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pelos extremistas no país.

De acordo com um relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), publicado em julho deste ano, a prioridade do EI atualmente é “o reagrupamento e a tentativa de ressurgir” em seus dois principais domínios, Iraque e Síria. O documento sugere, ainda, que o grupo teve considerável perda financeira recentemente, devido a dois fatores: as operações antiterrorismo no mundo e a má gestão de fundos por parte de seus líderes.

Paralelamente à derrocada do EI, a pandemia de Covid-19 reduziu o número de ataques terroristas em regiões sem conflito, devido a fatores como a redução do número de pessoas em áreas públicas. Entretanto, grupos jihadistas têm se fortalecido em zonas de conflito, caso da África Ocidental, o que explica a importância de fortalecer o ISWAP para manter a relevância global.

Em meio aos conflitos que se intensificam no nordeste da Nigéria, estima-se que cerca de 1,74 milhão de crianças menores de cinco anos sofram de desnutrição aguda entre setembro de 2021 e agosto de 2022 na região. Esse número inclui mais de 600 mil casos de desnutrição aguda grave.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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