Explosão mata sete soldados de força de paz da ONU na região central do Mali

Comboio da Minusma, missão de paz da ONU no país, foi atingido por um dispositivo explosivo improvisado quando trafegava por uma rodovia

A explosão de uma bomba em uma rodovia maliana, na manhã de quarta-feira (8), matou sete soldados do Togo que integravam a Minusma, força de paz da ONU (Organização das Nações Unidas) no Mali. O ataque ocorreu em Bandiagara, na região central do Mali, e também deixou três soldados gravemente feridos.

El-Ghassim Wane, representante especial do secretário-geral António Guterres no país africano, classificou a ação como um “ataque covarde” e afirmou que pode constituir crime de guerra ao abrigo do direito internacional. Nenhum grupo extremista reivindicou a autoria do ataque, ocorrido em uma área dominada por insurgentes ligados à Al-Qaeda que habitualmente realizam operações contra forças de segurança e civis.

Em sua conta no Twitter, o subsecretário-geral da ONU para operações de paz, Jean-Pierre Lacroix, destacou que a missão dos soldados é pacífica. “Sete soldados togoleses de manutenção da paz do @UN_MINUSMA foram mortos em um ataque de dispositivo explosivo improvisado. Soldados de paz africanos que vieram apoiar um país e um povo em sua região. Esses crimes não devem ficar impunes”, disse ele.

Ataques frequentes

Desde o início deste ano, dezenas de ataques contra integrantes da Minusma envolvendo dispositivos explosivos improvisados (IEDs, na sigla em inglês) ​​foram registrados. Wane afirmou que tais ataques são um lembrete da necessidade de ampliar os esforços para estabilizar a região central do Mali.

Na segunda-feira (6), um soldado do Egito a serviço da ONU morreu em virtude de ferimentos sofridos em um ataque no norte do Mali. Ele ficou gravemente ferido em 22 de novembro, quando o veículo em que estava atingiu um IED em Tessalit, a cerca de 11 quilômetros do campo da Minusma. O egípcio, junto de dois colegas também feridos, estava internado em Dacar, no Senegal.

Militares da operação de paz da ONU em Kivu do Norte, RD Congo, abril de 2021 (Foto: Reprodução/Twitter/Monusco)

Por que isso importa?

A instabilidade no Mali começou com o golpe de Estado em 2012, quando vários grupos rebeldes e extremistas tomaram o poder no norte do país. De quebra, a nação, independente desde 1960, viveu em maio deste ano o terceiro golpe de Estado em um intervalo de apenas dez anos, seguindo o que já havia ocorrido em 2012 e também em 2020.

A mais recente turbulência política começou semanas antes do golpe, com a demissão do primeiro-ministro Moctar Ouane pelo presidente Bah Ndaw. Reconduzido ao cargo pouco depois, Ouane não conseguiu formar um novo governo, e a tensão aumentou com a falta de pagamento dos salários dos professores. O maior sindicato da categoria, então, começou a se preparar para uma greve.

Veio a noite do dia 24 de maio, quando o coronel Goita, vice-presidente do país, destituiu Ndaw e Ouane de seus cargos e ordenou a prisão de ambos na capital Bamako. Segundo ele, os dois líderes civis violaram a carta de transição ao não consultarem o militar na formação do novo governo.

Ao contrário do que ocorreu em golpes anteriores, que contaram com apoio popular, desta vez a maior parte da população malinesa rejeitou a tomada de poder por Goita, que derrubou o governo de transição recém-instituído e assumiu o comando do país. A população civil não foi às ruas protestar contra o militar, mas usou as redes sociais para mostrar sua insatisfação.

Militarmente, especialistas e políticos ocidentais enxergam uma geopolítica delicada na região, devido ao aumento constante da influência de grupos jihadistas e a consequente explosão da violência nos confrontos entre extremistas e militares. Além disso, trata-se de uma posição importante para traficantes de armas e pessoas, e o processo em curso de redução das tropas franceses, que atuam no país desde 2013, tende a piorar a situação.

Os conflitos, antes concentrados no norte do país, se expandiram inclusive para os vizinhos Burkina Faso e Níger. A região central do Mali se tornou um dos pontos mais violentos de todo o Sahel africano, com frequentes assassinatos étnicos e ataques extremistas contra forças do governo.

No Brasil

Casos mostram que o país é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, um levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram. Saiba mais.

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