França confirma morte de terrorista líder de facção da Al-Qaeda no Sahel africano

Nasser Al Tergui era o número dois do do grupo extremista Jamaat Nasr al-Islam wal Muslimin e especialista em plantar artefatos explosivos

O exército francês forneceu nesta quinta-feira (21) mais informações sobre a ação que levou à morte de um dos líderes do grupo extremista Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos (GSIM, na sigla em francês), que tem vinculo com a Al-Qaeda e opera no Mali, perto da fronteira com Burkina Faso e Níger.

Através de seu Twitter, o exército anunciou que o terrorista neutralizado é na verdade Nasser Al Tergui, o número dois da organização, subordinado ao líder Abou Hamza Al Chinguetti. Outros quatro extremistas morreram no ataque aéreo.

Al Tergui era membro da Al-Qaeda desde 2012, e posteriormente se juntou ao GSIM, uma coalizão de milícias jihadistas formada em 2017. Também conhecido pelo nome em árabe Jamaat Nasr al-Islam wal Muslimin (JNIM), o grupo lidera a principal rede jihadista do Sahel.

“Ele se especializou notavelmente em plantar artefatos explosivos improvisados”, afirma o comunicado do exército francês sobre o terrorista. Ainda de acordo com os militares, a morte dele “reduzirá a capacidade de causar danos desse grupo terrorista armado conhecido por realizar ataques contra as forças locais e numerosos atos de violência contra a população local”.

A missão Barkhane, do exército francês, usou um drone para localizar Al Tergui e os outros membros no dia 15 de outubro, em um acampamento. No dia seguinte, um helicóptero militar foi enviado ao local, mas o veículo com os extremistas se recusou a parar. “Dois ataques aéreos foram desencadeados, o veículo foi destruído, e os cinco ocupantes, neutralizados”, disse o exército.

A ação francesa chegou a ser noticiada anteriormente pela imprensa europeia, com base em informações da agência Efe. Num primeiro momento, surgiu o nome de Saghid Ag Alkhoror como sendo líder do GSIM morto na operação. Agora, o exército fez a identificação correta do terrorista.

Também conhecido pelo nome em árabe Jamaat Nasr al-Islam wal Muslimin (JNIM), o GSIM lidera a principal rede jihadista do Sahel.

Exército francês em missão no Sahel africano, em 2015 (Foto: Wikimedia Commons)

Negociações com extremistas

A confirmação da morte de Al Tergui vem em um momento de desacerto entre os governos do Mali e da França, a principal aliada militar do país africano. Isso por o governo do coronel Assimi Goita iniciou um processo que pode levar a um acordo de paz com grupos extremistas locais.

O Ministério dos Assuntos Religiosos do Mali encarregou o Alto Conselho Islâmico, principal órgão islâmico do país, a sentar-se com representantes das facções locais para negociar uma trégua. Isso depois de o governo abrir negociações com um esquadrão de mercenários, o Wagner Group, a fim de fortalecer o combate ao extremismo.

Tanto as negociações de paz com os jihadistas quanto a contratação dos mercenários são reprovadas por Paris, que sempre deixou claro não admitir negociações com grupos terroristas. O governo francês, inclusive, iniciou um processo de redução de tropas no Mali por ordem do presidente Emmanuel Macron, sob o argumento de que as ações não têm dado o resultado esperado.

Por que isso importa?

A instabilidade no Mali começou com o golpe de Estado em 2012, quando vários grupos rebeldes e extremistas tomaram o poder no norte do país. De quebra, a nação, independente desde 1960, viveu em agosto do ano passado o quarto golpe militar na sua história, gerando uma turbulência política que dificulta o combate aos insurgentes.

Especialistas e políticos ocidentais enxergam uma geopolítica delicada na região, devido ao aumento constante da influência de grupos jihadistas e a consequente explosão da violência nos confrontos entre extremistas e militares. Além disso, trata-se de uma posição importante para traficantes de armas e pessoas, e o processo em curso de redução das tropas franceses, que atuam no país desde 2013, tende a piorar a situação.

Os conflitos, antes concentrados no norte do país, se expandiram inclusive para os vizinhos Burkina Faso e Níger. A região central do Mali se tornou um dos pontos mais violentos de todo o Sahel africano, com frequentes assassinatos étnicos e ataques extremistas contra forças do governo.

O governo do coronel Assimi Goita, admitindo a incapacidade de conter o avanço dos jihadistas mesmo com apoio militar internacional, resolveu recorrer ao uso de um esquadrão de mercenários. Trata-se do Wagner Group, uma organização obscura russa cuja própria existência é invariavelmente desmentida.

No Brasil

Casos mostram que o país é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, um levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram. Saiba mais.

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