Jornalistas camaroneses lamentam a morte de terceiro profissional de imprensa em 2023

Anye Nde Nsoh foi morto a tiros por homens armados na noite de domingo

Anye Nde Nsoh, um jornalista camaronês que trabalhava para o jornal The Advocate Newspaper, foi morto a tiros no domingo (7) por volta das 21h (horário local), em um bar na cidade de Bamenda, na conturbada região noroeste do país, disse um comunicado divulgado pelo sindicato de jornalistas local. As informações são da rede Voice of America (VOA).

Nesta segunda-feira (8), dezenas de colegas de imprensa visitaram a residência do repórter assassinado para prestar solidariedade à família. Jude Muma, presidente da Associação Camaronesa de Jornalistas de Língua Inglesa (Camasej, da sigla em inglês), liderou a comitiva.

“A família está sofrendo muito. Anye Nde Nsoh tem um bebê, e a mãe está inconsolável. Os vizinhos estão sofrendo, os colegas profissionais do jornalismo também estão aqui sofrendo porque Anye Nde Nsoh não existe mais”, falou Muma por telefone de Bamenda.

Anye Nde Nsoh foi o terceiro jornalista morto no país desde o início do ano (Foto: redes sociais/Reprodução)

O editor do jornal, Tarhyang Enowbikah Tabe, disse que Nsoh era um profissional “correto e bem-humorado” e que não consegue entender a motivação do assassinato. “É uma grande perda para a imprensa camaronesa. Aproveito novamente esta oportunidade para condenar o assassinato de jornalistas. Na verdade, eles são alvos fáceis. É muito triste”.

Até agora, ninguém reivindicou a responsabilidade pela morte de Nsoh. O exército atribui a culpa a combatentes separatistas, mas sem apontar provas ou possíveis motivos.

O incidente é o mais recente de uma série de ataques contra jornalistas em Camarões, que é governado pelo ditador Paul Biya, político de vasto histórico de repressão à oposição. Nsoh é o terceiro jornalista a ser morto no país desde o início do ano.

Antes dele morreu em janeiro o popular jornalista investigativo Martinez Zogo, que era uma pedra no sapato do governo pelas denúncias em seu programa diário, chamado Embouteillage  (Engarrafamento, em tradução literal), que abordava casos de corrupção no país frequentemente mencionando nomes de autoridades e outros figurões. A outra vítima foi o apresentador de rádio Jean-Jacques Ola Bebe.

Diante desse cenário, a ONU (Organização das Nações Unidas) expressou preocupação com o ambiente da mídia no país africano.

De acordo com a 21ª edição do Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), divulgada no começo deste mês, Camarões ocupa a 138ª posição de um total de 180 países de todo o mundo. No fundo da tabela estão Irã (177º), Vietnã (178º)  China (179º) e Coreia do Norte (180º).  

Por que isso importa?

A crise em Camarões começou em 2016, quando professores e advogados tomaram as ruas para protestar contra o domínio do francês nos tribunais e nas escolas de língua inglesa. A greve ganhou corpo rapidamente, e em novembro uma boa parte da população já pedia por reformas políticas. De lá para cá, a barreira do idioma separou o país de 25 milhões de habitantes.

Os grupos separatistas anglófonos ganharam força, e a violência teve escalada rápida mesmo durante a pandemia de Covid-19. Os conflitos se concentram nas províncias Noroeste e Sudoeste, com acusações mútuas de assassinatos de civis. Mais de 3,5 mil pessoas morreram desde então, e ao menos 700 mil foram forçadas a deixar suas casas.

O Ministério da Defesa acusa “a existência de ligações e trocas de armamentos sofisticados” entre “terroristas separatistas” e “outras entidades terroristas que operam além das fronteiras”, incluindo grupos extremistas islâmicos.

Sem sucesso nas tentativas de firmar um acordo de paz com os combatentes, o presidente Paul Biya, há 38 anos no poder, já pediu ajuda à União Europeia (UE) e aos Estados Unidos.

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