Mesmo após acordo de paz, mais de 2,3 milhões de crianças seguem fora da escola na Etiópia

Maior obstáculo para retomada das aulas é a destruição de salas de aula durante o conflito no norte do país africano

Apesar do acordo de paz firmado entre o governo e os rebeldes que colocou fim ao conflito no norte da Etiópia, ao menos 2,3 milhões de crianças continuam sem poder ir à escola na região. Os números foram divulgados pela ONG humanitária Save The Children.

O maior obstáculo para retomada das aulas é a destruição de salas de aula durante o conflito, problema que exige financiamento urgente para ser solucionado. “A situação é particularmente ruim em Tigré, onde 85% das escolas sofreram danos graves ou parciais e todas as escolas públicas permanecem fechadas”, diz a entidade.

Embora as crianças do norte do país sejam as mais afetadas, o problema educacional é nacional. Em toda a Etiópia, a ONG estima que 3,5 milhões de crianças estão fora da escola, número que corresponde a um em cada 16 menores em idade escolar.

“A atual crise humanitária na Etiópia é uma das piores da memória recente. Conflitos, fome e o impacto da crise climática forçaram milhões a deixar suas casas, resultando em inúmeras crianças sendo forçadas a abandonar a escola”, disse Xavier Joubert, diretor da Save the Children para a Etiópia.

No âmbito nacional, a situação ficou fora de controle durante a pandemia de Covid-19, que ainda deixou 22,5 mil professores sem remuneração. Pelos cálculos da Save The Children, feitos com a colaboração do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e do Ministério da Educação da Etiópia, há em todo o país 2,3 milhões de crianças que não vão à escola há três anos.

Um apelo por financiamento feito pela ONU (Organização das Nações Unidas) para a Etiópia coletou apenas 18,4% do valor necessário, o que significa que um adicional de US$ 3,26 bilhões é necessário.

“É fundamental que os prédios escolares danificados ou destruídos pelo conflito sejam consertados e que os professores não remunerados recebam um incentivo pelo seu trabalho”, afirmou Joubert.

Crianças em igreja na região de Tigré, Etiópia (Foto: Unicef/Zerihun Sewunet)
Por que isso importa?

A região de Tigré, no extremo norte da Etiópia, esteve imersa em conflitos por dois anos desde novembro de 2020, quando disputas eleitorais levaram Addis Abeba a determinar a tomada das instituições locais. A disputa opõe a TPLF às forças de segurança nacionais da Etiópia.

Os militares chegaram a reconquistar Tigré, mas os rebeldes viraram o jogo e começaram a ganhar território. No final de junho de 2021, eles anunciaram um processo de “limpeza” para retomar integralmente o controle da região e assumiram o comando de Mekelle.

Pouco após a derrota do exército, o governo da Etiópia decretou um cessar-fogo e deixou Tigré. Os soldados do exército da aliada Eritreia também deixaram de ser vistos por lá. Posteriormente, com o avanço dos rebeldes, que chegaram às regiões vizinhas de Amhara e Afar, o exército foi enviado novamente para apoiar as tropas locais.

Durante o conflito, a TPLF se aliou ao OLA (Exército de Libertação Oromo, da sigla em inglês), que em 2020 se desvinculou do partido político homônimo e passou a defender de maneira independente a etnia Oromo, a maior da Etiópia.

A coalizão passou a superar o exército nos confrontos armados e chegou a ameaçar rumar para a capital, sem sucesso. A situação estava relativamente calma em 2022 até agosto, quando nos confrontos eclodiram. Três meses depois, um cessar-fogo foi firmado, e os rebeldes começaram a depor suas armas.

Acredita-se que dezenas de milhares de pessoas tenham morrido no conflito, com milhões de deslocados das regiões de Tigré, Amhara e Afar. Em março de 2023, os EUA acusaram todas as partes envolvidas no conflito de cometerem crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

A denúncia recai não apenas sobre as forças armadas da Etiópia e da Eritreia, país vizinho que apoiou o governo etíope durante o conflito. Também atinge as milícias de oposição, quais sejam a TPLF e as forças rebeldes de Amhara.

Ajude crianças em todo o mundo

O Unicef, órgão da ONU que fornece apoio humanitário a milhões de crianças em todo o mundo, tem um programa de doações aberto a todos que quiserem ajudar. Através ele, é possível oferecer uma quantia mensal que parte de R$ 30, dinheiro esse convertido para apoiar o desenvolvimento de menores de idade em países de todo o mundo. Se quiser ajudar, clique aqui.

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