Ministério das Relações Exteriores da França confirma prisão de autoridade no Níger

Na última sexta-feira, Stephane Jullien, que desempenha a função não diplomática de conselheiro para cidadãos franceses no exterior, foi detido por militares golpistas

Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da França anunciou na terça-feira (12) que um oficial francês foi detido no Níger, que passou por um golpe de Estado em julho e teme ser invadido por tropas da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO). Paris fez um apelo veemente para a sua libertação imediata. As informações são da agência Associated Press.

Em julho, líderes as forças do exército nigerino depuseram o presidente eleito, Mohamed Bazoum, e no mês passado, emitiram uma ordem para que as autoridades francesas deixassem o país. A França se recusou a cumprir essa ordem, argumentando que a junta no Níger não possui legitimidade como autoridade governamental.

Através de uma declaração publicada no X, antigo Twitter, o ministério informou que Stephane Jullien, que ocupa o cargo não diplomático de conselheiro para cidadãos franceses no exterior, foi detido na sexta-feira passada, e solicitou sua imediata libertação.

O presidente francês, Emmanuel Macron, durante pronunciamento no Palácio Elysée, em Paris, França. Janeiro de 2018 (Foto: Flickr/Jacques Paquier)

O presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou que o embaixador da França no Níger permanecerá em seu cargo, mesmo após ter sido convidado a partir. Macron abordou essa questão em agosto ao se dirigir aos embaixadores, rejeitando as preocupações de que desafiar a junta poderia ser arriscado.

A prisão de um funcionário francês está intensificando as já tensas relações entre a França e o Níger, sua antiga colônia.

O Ministério das Relações Exteriores não forneceu detalhes sobre o local e as circunstâncias da prisão de Jullien, nem se as autoridades em Paris tinham conhecimento de seu paradeiro. A declaração do ministério apenas enfatizou que a França estava acompanhando de perto a situação e estava totalmente comprometida em garantir as devidas proteções a qualquer cidadão em território estrangeiro.

O embaixador francês, Sylvain Itte, foi solicitado a deixar o Níger em 48 horas, conforme comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Níger, datado de 25 de agosto. A carta acusava Itte de ignorar um convite para uma reunião com o ministério e mencionava “ações do governo francês contrárias aos interesses do Níger”.

A França tem consistentemente reconhecido apenas a autoridade de Bazoum, que continua detido pela junta militar. Esta junta está atualmente sob sanções impostas por potências ocidentais e nações africanas da região.

Após o general Abdourahamane Tiani assumir o poder no Níger, mais de 1,5 mil soldados franceses foram obrigados a deixar o território. Esses militares anteriormente participavam do esforço internacional de combate ao terrorismo na região do Sahel.

Macron instou a não se ceder à narrativa promovida pelos líderes do golpe, que tentam retratar a França como inimiga, durante a reunião anual dos embaixadores da nação realizada no final de agosto em Paris.

Por que isso importa?

Em 26 de julho, o Níger foi palco de um golpe de Estado, no qual o general Abdourahamane Tchiani, alegando “deterioração da situação de segurança” no país devastado pela ação de grupos jihadistas, se autodeclarou líder nacional dois dias depois após destituir o presidente democraticamente eleito Mohamed Bazoum. 

A ascensão ao poder de Bazoum, eleito no final de fevereiro de 2021, marcou uma transferência pacífica de poder histórica no Níger desde sua independência da França em 1960. Ele agora encontra-se sob custódia da guarda presidencial no palácio da presidência e pode ser julgado sob a acusação de “alta traição”.

O político é reconhecido como um aliado fundamental nos esforços ocidentais para combater a insurgência islâmica na região do Sahel, e Niamei é um dos principais beneficiários da ajuda externa.

Apesar dos apelos de diversos países e blocos regionais, clamando pela reinstauração do presidente deposto, Tchiani rejeitou tais chamados, argumentando que configuram “interferência nos assuntos internos do país”.

Um dos países mais pobres do mundo, conforme classificação da ONU (Organização das Nações Unidas), o Níger luta contra o alastramento do Boko Haram, ligado à Al-Qaeda, e do ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental), ambos da Nigéria, que já expandiram sua atuação para a nação vizinha.

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