Novo foco do extremismo islâmico na África, Togo registra mais um ataque

Insurgentes usaram uma bomba e depois abriram fogo contra as tropas do exército, que registraram 'vários' feridos

O governo do Togo anunciou na terça-feira (23) que suas forças armadas repeliram um novo ataque terrorista no norte do país, em meio à crescente onda de violência jihadista que se alastra pelo continente e começa a ameaçar as nações costeiras da África Ocidental. As informações são do site The Defense Post.

A ação ocorreu na segunda-feira (22) e foi a quinta registrada no Togo desde 2021, uma sequência de evento que coloca o país definitivamente no mapa do extremismo islâmico. A ação ocorreu na vila de Blamonga, perto da fronteira com Burkina Faso, e deixou “vários” militares feridos.

“Por volta das 22:00 GMT (Tempo Médio de Greenwich, da sigla em inglês), as forças de segurança da operação Koundjoare foram novamente vítimas de um complexo ataque envolvendo um artefato explosivo improvisado em uma de nossas patrulhas na vila de Blamonga”, disse o tenente-coronel Samah Soussou em entrevista a uma estação de rádio local.

Segundo o militar, os insurgentes então abriram fogo primeiro, o que levou a um confronto com as tropas do exército. “Infelizmente, registramos vários feridos que estão sendo atendidos”, acrescentou ele, sem dar mais detalhes.

Depois da ação, os insurgentes fugiram rumo a Burkina Faso e não puderam ser perseguidos do outro lado da fronteira.

Soldado do Togo em missão de paz da ONU, dezembro de 2018 (Foto: Flickr)

No dia 14 de julho o Togo registrou o ataque terrorista mais mortífero de que se tem notícia do país. Na ocasião, quatro vilas do norte foram atacadas e ao menos 15 pessoas morreram, segundo testemunhas. Os dados não foram confirmados oficialmente pelo governo.

Embora nenhum grupo tenha reivindicado a autoria do ataque de julho, tudo aponta para o Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos (GSIM, na sigla em francês), organização extremista sediada no Mali e vinculada à Al-Qaeda que se expandiu internacionalmente e já surge como ameaça em países vizinhos, como BeninCosta do Marfim e Gana.

Devido ao crescimento da ameaça terrorista, o governo togolês decretou estado de emergência, e as forças armadas passaram a marcar forte presença no norte do país, a fim de combater facções originárias sobretudo de Burkina Faso, Mali e Níger.

Por que isso importa?

Embora as ações antiterrorismo globais tenham enfraquecido os dois principais grupos jihadistas do mundo, Estado Islâmico (EI) e Al-Qaeda, ambos conseguem se manter relevantes e atuantes. A estratégia dessas duas organizações inclui o recrutamento de novos seguidores através da internet e a forte presença em zonas de conflito como a África, onde são representadas por grupos afiliados regionais. O Afeganistão, agora sob o comando do Taleban, também é um porto seguro para muitos jihadistas.

Na África Ocidental, em particular, a violência das organizações jihadistas tem aumentado. Nos últimos três anos, foram registrados mais de 5,3 mil ataques terroristas, com a morte de cerca de 16 mil pessoas. A informação foi divulgada no início de maio deste ano pelo ministro da Defesa de Gana, Dominic Nitiwul, durante reunião de representantes dos países da região.

O continente africano ganhou importância em meio às derrotas impostas às grandes organizações jihadistas em outras regiões, caso do Oriente Médio. Em 2017, o exército iraquiano anunciou a derrota do EI no Iraque, com a retomada de todos os territórios que o grupo dominava desde 2014. O EI, que chegou a controlar um terço do país, hoje mantém por lá apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos. Já as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pelos extremistas do grupo na Síria.

Em janeiro deste ano, o exército norte-americano impôs nova derrota ao EI com o anúncio da morte de Amir Muhammad Sa’id Abdal-Rahman al-Mawla, principal líder da facção. Ele morreu durante uma operação antiterrorismo na Síria, em mais um duro golpe contra o grupo, que em 2019 havia perdido o líder anterior, Abu Bakr al-Baghdadi.

No caso da Al-Qaeda, que igualmente mantém facções relevantes na África, a sobrevivência do grupo pode ser explicada também pela tomada de poder pelo Taleban no Afeganistão. “As avaliações dos Estados-Membros até agora sugerem que a Al-Qaeda tem um porto seguro sob o Taleban e maior liberdade de ação”, diz relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) divulgado no final de maio.

“A Al-Qaeda permanece no sul e leste do Afeganistão, onde tem uma presença histórica”, diz o relatório. “O grupo supostamente tem de 180 a 400 combatentes, com as estimativas dos Estados-Membros inclinando-se para o número mais baixo”, prossegue o documento, que cita cidadãos de Bangladesh, Índia, Mianmar e Paquistão como sendo integrantes da facção.

O documento destaca, ainda, que “a Al-Qaeda usou a ascensão do Taleban para atrair novos recrutas e financiamento e inspirar os afiliados da Al-Qaeda globalmente”. E que o atual líder da organização, Ayman al-Zawahri, que foi o braço direito do famoso terrorista Osama Bin Laden, continua a viver no Afeganistão, bem como seus comandantes mais próximos.

Anteriormente, a ONU já havia lembrado que a Al-Qaeda chegou a parabenizar publicamente os talibãs pela ascensão ao poder. E alegou que um filho de Bin Laden, Abdallah, visitou o Afeganistão em outubro de 2021 para reuniões com o Taleban.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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