Homens armados matam 11 agentes de segurança pública em dois ataques no Níger

Vítimas são sete guardas de fronteira que atuavam perto de Burkina Faso e quatro membros da Guarda Nacional nigerina

Um grupo de homens fortemente armados realizou dois ataques na última terça-feira (12), em locais distintos, e matou 11 agentes públicos de segurança do Níger. A informação foi confirmada oficialmente pelo governo nacional, de acordo com a agência Reuters.

Um dos ataques ocorreu em um posto de checagem de fronteira em Petelkole, perto de Burkina Faso, país vizinho ao Níger. Nessa ação, sete oficiais de fronteira foram mortos.

A outra ocorrência foi contra um destacamento da Guarda Nacional em Djado, na região de Agadez, no norte do país. Quatro membros da guarnição morreram.

Além dos 11 mortos, o governo confirmou mais dez feridos nos dois atentados e disse que veículos foram roubados dos postos de segurança atingidos. De acordo com o Ministério do Interior nigerino, a segurança foi reforçada nas duas posições após os ataques.

Rebeldes extremistas na região de Tillaberi, no Níger (Foto: Wikimedia Commons)

Violência crescente

No dia 24 de março, seis soldados do exército do Níger morreram em um ataque realizado na região de Tillaberi, no sudoeste do país. Aquele havia sido o segundo caso de violência registrado em um intervalo de dez dias, de acordo com o Ministério da Defesa, rompendo um período de relativa calmaria na violenta região.

Na semana anterior, em 16 de março, ao menos 21 pessoas morreram em um ataque contra um ônibus e um caminhão, igualmente em Tillaberi.

Embora nenhum grupo tenha assumido a autoria dos três ataques recentes, as forças de segurança locais responsabilizam grupos jihadistas que passaram a atuar no país nos últimos anos.

Por que isso importa?

No Níger, o epicentro da violência é a região de Tillaberi, um dos principais palcos da onda jihadista que tomou o Sahel Central. A violência aprofunda os desafios de segurança enfrentados pelo presidente Mohamed Bazoum, eleito no final de fevereiro de 2021.

Bazoum ocupa o lugar de Mahamadou Issoufou, que esteve à frente do governo desde 2011 e deixou o poder após dois mandatos, na primeira transição presidencial pacífica do país desde a independência da França, em 1960.

O país mais pobre do mundo, conforme classificação da ONU (Organização das Nações Unidas), luta contra o alastramento do Boko Haram e do ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental), da Nigéria, que avançam sobre o sudeste do país.

Principal facção extremista da Nigéria, o Boko Haram passou a colecionar derrotas ultimamente, com a neutralização de seus líderes por parte das forças de segurança nigerianas.

Em junho do ano passado, militantes do grupo jihadista gravaram um vídeo no qual confirmaram a morte de Abubakar Shekau, seu notório ex-comandante. Essas derrotas levaram o grupo se movimentar mais e, assim, chegar ao Níger, distante do enfrentamento com o exército nigeriano.

Já o ISWAP, formado por dissidentes do Boko Haram, se afastou de Shekau em 2016 e passou a se concentrar em alvos militares e ataques de alto perfil, inclusive contra trabalhadores humanitários.

Depois da morte de Shekau, acredita-se que houve uma aproximação entre os dois grupos, sendo o maior indício dessa aliança a realização de ataques contra organizações militares por combatentes suspeitos de integrarem ambas as facções.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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