Relação entre Marrocos e Israel reabre questão do Saara Ocidental

Em troca de reconhecimento de Rabat ao Estado judeu, EUA vai reconhecer soberania marroquina no território

O presidente dos EUA, Donald Trump, concordou nesta quinta (10) em reconhecer a soberania do Marrocos sobre o território disputado de Saara Ocidental. Mas, em troca, Rabat terá que normalizar as relações com Israel, reportou a Al-Jazeera.

Com a recente escalada do conflito entre marroquinos e saarauis, os EUA tomaram partido na disputa pela primeira vez na história. Washington conferirá reconhecimento ao Marrocos da posse do vizinho ao sul em troca da normalização de laços entre o país e o Estado judeu.

Assim, Marrocos deve ser o último país árabe a estabelecer relações com Tel Aviv até Trump deixar a presidência, em janeiro.

Emirados Árabes Unidos e Bahrein já oficializaram a cooperação, enquanto o Sudão assinou o acordo no último dia 23 de outubro. A moeda de troca, nesse caso, é a retirada do país da lista de patrocinadores do terrorismo.

EUA reconhece soberania de Marrocos em troca de normalização com Israel
Acampamento de refugiados da Saara Ocidental na Argélia, em fevereiro de 2012 (Foto: UE Photo)

O reconhecimento da região como parte do Marrocos, porém, alimenta o risco de guerra na já sensível região. Ainda que a ONU e a União Europeia não reconheçam a independência do território, a maioria dos países africanos apoiam formalmente a república saaraui.

O Marrocos controla a maior parte do país, incluindo a costa atlântica, enquanto a Frente Polisário se resume a partes do interior do deserto.

Em 1979, uma resolução da ONU reconheceu o direito da população do Saara Ocidental à independência. A comissão aponta a Frente Polisário como sua representante e “deplora profundamente” a ocupação marroquina.

Assim, o reconhecimento dos EUA à soberania do Marrocos abre precedentes a um novo confronto armado regional – e uma possível abertura para grupos extremistas islâmicos que já se espalham pela África, apontou o “The New York Times”.

Entenda o conflito

Quando a Espanha saiu da região, em 1975, deixou para trás um conflito sobre a soberania da Mauritânia, Marrocos e Frente Polisário. À frente da República Árabe Saaraui Democrática, os polisários reataram com a Mauritânia em 1979.

Restou o Marrocos, que manteve a disputa pelo território até 1991, quando um acordo mediado pela ONU estabeleceu um cessar-fogo na região. Um referendo deveria dar um ao conflito, mas a proposta nunca saiu do papel.

Em novembro, o exército marroquino lançou uma operação militar na faixa de proteção de Guerguerat, sob patrulha da ONU (Organização das Nações Unidas), ao alegar “provocações” de membros do grupo separatista.

A região de Saara Ocidental abriga cerca de 500 mil pessoas, apesar do aumento de marroquinos, incentivados por Rabat.

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