Vídeo sugere que Boko Haram se aliou a rival envolvido na morte de Abubakar Shekau

Gravação de militantes leva a crer que ISWAP esteja consolidando o controle da insurgência no nordeste da Nigéria após a morte de Abubakar Shekau

Pouco mais de um mês após a morte de seu líder, Abubakar Shekau, combatentes do grupo jihadista nigeriano Boko Haram teriam jurado lealdade aos rivais do ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental). A informação foi obtida com base na análise de um vídeo pela agência Reuters.

A gravação alimenta o temor de que o ISWAP esteja consolidando seu poder no nordeste da Nigéria, após forçar a tentativa de martírio do líder do Boko Haram durante um confronto no mês passado. Shekau morreu após detonar um explosivo em si mesmo durante perseguição dos rivais islâmicos.

No entanto, há discordância entre os analistas quanto ao vídeo. Há quem acredite que nem todos os combatentes do Boko Haram estão prontos para se juntar aos rivais.

Militantes do ISWAP em anúncio sobre a morte de 30 soldados da Nigéria, em março de 2021 (Foto: Reprodução/Sahara Reporters/ISWAP)

Após um longo período de rivalidade marcada por violência, se o ISWAP de fato absorver os militantes do Boko Haranm, a junção fortaleceria o grupo e permitiria concentrar as atenções numa ofensiva contra os militares nigerianos.

Cerca de 350 mil pessoas morreram em consequência da insurgência de 12 anos e da subsequente crise humanitária, disse a ONU nesta semana.

Controle do ISWAP

O vídeo, produzido pelo braço oficial da mídia do Estado Islâmico, mostra trechos de gravações nas quais centenas de homens, muitos dos quais armados, se reúnem no mato. Vários deles fazem declarações para a câmera.

“Vamos nos unir para combater os (incrédulos)”, disse um combatente do Boko Haram em Hausa. “O que acontecerá vai exceder de longe o que aconteceu no passado, agora que estamos unidos”, diz um dos combatentes.

Outro indicador da consolidação do poder do ISWAP seria a queda significativa na violência contra civis em áreas onde o Boko Haram operava.

Para Bulama Bukarti, analista sênior do Tony Blair Institute for Global Change (Instituto Tony Blair Para Mudança Global, da sigla em inglês), a ideia do vídeo como propaganda deve ser rejeitada: “Eu acho que o Boko Haram ainda está muito dividido, e eles continuarão a lutar uns contra os outros”.

Conflito violento

Formado por dissidentes do Boko Haram, o ISWAP se separou de Shekau em 2016 e, desde então, se concentra em alvos militares e ataques de alto perfil – inclusive contra trabalhadores humanitários. Os grupos disputam o controle do estado de Borno, ao nordeste da Nigéria.

Só em abril deste ano, mais de 300 pessoas foram mortas na região, conforme a Anistia Internacional. No primeiro semestre de 2020, foram 1,1 mil. A precariedade econômica é outro fator de aceleração da violência.

Jovens sem perspectiva acabam entrando nos grupos jihadistas como uma forma de sustento, ao mesmo tempo em que crescem os sequestros por resgate. Desde dezembro, o país registrou seis sequestros em massa de crianças em idade escolar e estudantes universitários.

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