Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site do jornal The Washington Examiner
Por Tom Rogan
Beijing reagiu com alarme ao comentário da primeira-ministra italiana Giorgia Meloni de que o presidente Joe Biden não mencionou a Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative) para ela.
O jornal de propaganda Global Times de Beijing argumenta que as palavras de Meloni sugerem que ela está escondendo algo. O jornal teme que Meloni possa usar sua viagem à Casa Branca nesta quinta-feira (27) para consolidar as relações EUA–Itália às custas da BRI.
Isso seria uma má notícia para a China.
Afinal, a BRI é a pedra angular da estratégia econômica de longo prazo do presidente chinês Xi Jinping – um projeto global desenvolvido para aumentar a influência econômica da China por meio de projetos conjuntos de infraestrutura e comércio. Terceira maior economia da União Europeia (UE), o envolvimento da Itália na BRI emprestou prestígio diplomático ao acordo. Mas a Itália deve decidir até março de 2024 se concorda com uma extensão de cinco anos da BRI ou se a abandona completamente. Meloni, que já havia expressado preocupação com a política externa da China, deu a entender que escolheria a última opção.
A retirada seria o curso de ação correto. A BRI é, em última análise, um esquema Ponzi do Partido Comunista Chinês (PCC), projetado para garantir a fidelidade econômica e política de nações soberanas, enredando-as em uma rede de dependência do comércio chinês. Previsivelmente, os chineses se beneficiaram muito mais da BRI do que os italianos. Dados do governo italiano mostram que, entre 2019 e 2022, a China aumentou suas exportações para a Itália quase o dobro do que a Itália aumentou suas exportações para a China. Beijing está usando ativamente a BRI para alavancar a obediência política das nações em desenvolvimento em troca de paciência no pagamento de suas obrigações de dívida com a China.
Beijing mal se preocupa em esconder o contexto político em que mantém relações econômicas. O Global Times enfatizou isso, alertando que “se a Itália seguir a direção estratégica dos EUA, isso prejudicará seus próprios interesses e pode acabar prejudicando sua autonomia nas relações externas.”
Observe aqui a referência à “autonomia”, uma brincadeira com a doutrina da “autonomia estratégica” do presidente francês Emmanuel Macron para a UE. A China adora essa doutrina, vendo-a como um meio fundamental para degradar a aliança transatlântica. Macron sabe disso, usando a afeição da China por seus jogos retóricos para extrair investimentos e acordos comerciais para a França.
Independentemente disso, o Global Times quer que Meloni entenda que sua retirada da BRI resultará em retaliação. Ele observa como “Meloni disse em diferentes ocasiões que a Itália pode ter excelentes relações com a China mesmo sem fazer parte de um pacto estratégico. No entanto, o impacto potencial é preocupante. Se a Itália decidir se retirar de uma plataforma que demonstrou confiança política mútua e melhorou o nível estratégico de cooperação entre os dois países, há todos os motivos para se preocupar com o potencial impacto negativo.”
Não é preciso ser um gênio para saber o que a China está dizendo aqui: se você deixar a BRI, nós o puniremos.
Se a Itália sair da BRI, os Estados Unidos devem estar prontos para fornecer à Itália novos incentivos econômicos. Beijing não pode persuadir aliados de longa data dos EUA a se conformarem com sua agenda global. Essa agenda visa a subordinar os EUA e seus valores democráticos aos caprichos de um PCC globalmente supremo.