A pobreza já atinge mais de 18 milhões na Argentina – quase metade da população do país –, apontou o Indec (Instituto Nacional de Estatística e Censos) na última quarta (30).
As restrições da pandemia só acentuaram a crise econômica vivida pelos argentinos desde 2015. No segundo trimestre deste ano, a retração do PIB (Produto Interno Bruto) foi de 19,1%, ante o mesmo período do ano passado. O baque é o mais forte desde a crise de 2002.
Em dezembro, a Indec apontou que 35,5% da população argentina se enquadrava nas taxas de pobreza do país. O índice abrange quem vive com até 14,7 mil pesos argentinos por mês, o equivalente a R$ 1.082,36.
A conclusão é semelhante à de pesquisa da Universidade Católica Argentina (UCA), publicada em junho. Conforme pesquisadores, a pobreza atingiu entre 46% e 47% da população do país.
Com as medidas de restrição, 3,5 milhões perderam seus empregos, fixos e informais, após impacto severo às empresas que produzem para o mercado interno.
A paralisação das atividades forçou o fechamento de negócios e elevou o desemprego para 13,1% no segundo trimestre.
“Há uma pobreza geral maior. Todos estamos um pouco mais pobres, como já estávamos no ano passado. Só que, desta vez, há mais desigualdade“, disse o pesquisador da UCA, Agustín Salvia.
Perspectivas pessimistas
Com o a reestruturação de 99% de sua dívida com credores privados externos, a Argentina ganhou alguns meses para reorganizar suas contas externas. Mas a pendência de US$ 66 bilhões pode prejudicar a compra de insumos e a implantação de programas sociais até a vacina.
“Será preciso muita imaginação para sair da pobreza”, disse o economista Andrés Asiain ao portal Mercopress na quinta (1). “Os programas tradicionais de poucas obras públicas e uma ligeira melhoria nos salários não serão suficientes”.
Até o final do ano, as expectativas não são otimistas. “Cerca de 45% dos argentinos estarão na pobreza até dezembro de 2020”, apontou Salvia. “Não vejo que voltaremos tão cedo aos 35% [taxa de pobreza] que tínhamos antes da crise, o que já era um escândalo.”