EUA debatem o envio a Taiwan de um pacote inédito de armas e treinamento militar

Projeto prevê o envio de US$ 1 bilhão em munições estocadas nos EUA e mais US$ 2 bilhões anuais em armas por cinco anos

O Congresso dos EUA debate atualmente a adoção de medidas emergenciais e inéditas de fornecimento de armas e treinamento militar às forças armadas de Taiwan, a fim de preparar a ilha para uma eventual agressão da China. As informações são do jornal The Washington Post.

O pacote de ajuda militar, avaliado em bilhões de dólares, une integrantes dos partidos Republicano e Democrata e prevê o envio de armamento do próprio arsenal das forças armadas norte-americanas. Um esforço nesse sentido foi visto somente em favor da Ucrânia na guerra atualmente em curso na Europa, desencadeada pela invasão da Rússia em 24 de fevereiro.

Se a medida for realmente adotada por Washington, pela primeira o governo taiwanês receberia armamento pelo programa de financiamento militar estrangeiro dos EUA. Estariam incluídos no pacote mísseis de cruzeiro antinavio, drones, minas navais e sistemas de rádio seguros e de defesa antiaérea.

“Uma das lições da Ucrânia é que você precisa armar seus parceiros antes que o tiroteio comece, e isso lhe dá a melhor chance de evitar a guerra em primeiro lugar”, disse o deputado republicano Mike Gallagher, ex-fuzileiro naval e atualmente membro do Comitê de Serviços Armados da Câmara.

Soldados taiwaneses: inédito pacote militar norte-americano está a caminho (Foto: WikiCommons)

Politicamente, o desafio dos congressistas responsáveis pelo projeto é alocar fundos para a iniciativa, vez que ela não está prevista na proposta de orçamento para 2023. Se não for possível realizar cortes em outros setores para realocar a verba, o presidente Joe Biden teria que apresentar um pedido emergencial e convencer os responsáveis pelo orçamento da importância da medida.

Conforme o projeto atualmente em discussão, Taiwan receberia o equivalente a US$ 1 bilhão em munições estocadas nos EUA e cerca de mais US$ 2 bilhões anuais em armas pelos cinco anos seguintes. Apenas Israel recebe um pacote anual de armas superior a este.

De acordo com o senador republicano Dan Sullivan, também membro do Comitê de Serviços Armados, a meta é “tornar os taiwaneses uma força militar formidável que possa se defender, como os ucranianos, ou pelo menos dificultar muito para o Exército de Libertação Popular (ELP, as forças armadas chinesas) atacá-los”.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em agosto. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no recente 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

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